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Caracas Journal

Um santuário para o herói de Chávez

POR WILLIAM NEUMAN

CARACAS, Venezuela - O mausoléu de 17 andares de azulejos brancos que está sendo construído para conter os restos do herói nacional, Simón Bolívar, parece para muitos moradores de Caracas a maior rampa de skate do mundo. Para outros, lembra um estacionamento, um shopping center, um véu de noiva, um barco à vela ou uma tela de cinema drive-in. Alguns simplesmente o consideram uma infâmia.

Mas para seus criadores é um tributo eloquente ao pai da pátria, a quase mítica inspiração da revolução socialista do presidente Hugo Chávez.

"É uma obra muito austera e simples, sem enfeites", disse Francisco Sesto, ministro de Estado para a Transformação Revolucionária da Grande Caracas, encarregado do projeto do mausoléu, que está quase concluído depois de muitos meses de atraso. Ele disse que esperava terminar o trabalho a um custo próximo dos US$ 78 milhões que foram aprovados até agora.

Sesto, que é arquiteto, disse que "a ideia essencial" do projeto derivou de uma frase de Bolívar: "Morrerei como nasci, nu".

O mausoléu de mais de 50 metros de altura paira sobre tudo ao seu redor, incluindo o Panteão Nacional, atual lugar de repouso dos restos de Bolívar, que foi criado a partir de uma igreja datada do século 19.

O mausoléu é branco e coberto de azulejos cerâmicos importados da Espanha, um volume modernista e ousado em forte contraste com a igreja tradicional que fica diretamente à sua frente.

"É uma monstruosidade", disse Napoleon Pisani, artista que trabalha no Museu Fundação John Boulton, ao lado do mausoléu. Não apenas é um desperdício de dinheiro, ele disse, mas também "fora de harmonia com tudo".

Poucos vizinhos hesitam em dar sua opinião.

"Parece um shopping center, não uma coisa religiosa ou uma obra de arte", disse Edwin Espinoza, 28, que trabalha em uma mercearia com vista para o mausoléu.

"É como uma rampa de skate", disse Carlos Sauza, 18, que pratica o esporte com amigos em uma praça diante do local da obra. Quando estiver terminada, ele brincou, "vamos descer por ela".

Mas George Herrera, 57, um guarda de segurança em um condomínio de apartamentos, disse que o mausoléu faz justiça à imagem de Bolívar.

"A ideia é que seja grande, monumental, enorme", disse Herrera. "O Libertador sempre tem de ser grande, colossal. Ele é um gigante da história mundial."

Bolívar, que liderou a guerra de independência contra a Espanha, está em toda parte aqui.

Alguns venezuelanos rezam para ele como se ele fosse uma espécie de santo.

Ao entrar no mausoléu, por um corredor vindo do Panteão, os visitantes olham para cima para o extenso teto que parece desaparecer conforme se eleva.

O vasto espaço lembra uma catedral. As paredes e os tetos são brancos e a luz do sol vaza por janelas muito altas. Um novo sarcófago, feito de cedro e decorado com ouro e pérolas, ficará no fundo da câmara, diante de uma estátua de Bolívar.

"Como é possível que eles tenham interferido em nosso patrimônio histórico dessa maneira?", disse Guillermo Barrios, reitor da escola de arquitetura da Universidade Central da Venezuela. "É um projeto extremamente arrogante."

Colaborou com reportagem María Eugenia Diaz

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