Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Saúde & Boa Forma

Guerreiros da geração "Clube da Luta"

JESSICA KOURKOUNIS PARA THE NEW YORK TIMES

POR DOUGLAS QUENQUA

Para uma geração que cresceu junto com as artes marciais mistas (MMA, na sigla em inglês, ou Vale Tudo), o famoso esporte passou a representar a medida máxima de masculinidade.

Hoje o MMA é "a atividade esportiva que resume o que significa ser um guerreiro", disse Jim Genia, 41, autor do livro "Raw Combat, the Underground World of Mixed Martial Arts" ["Combate Cru, o Submundo das Artes Marciais Mistas"].

Quando o MMA chegou aos Estados Unidos, vindo do Brasil, em 1993, foi anunciado como uma batalha sem regras, de moer os ossos. O primeiro campeonato UFC ("Ultimate Fighting Championship") foi entre um lutador de sumô de 188 kg e um kickboxer holandês. (O último acabou vencendo, com alguns dentes do outro fincados em seu pé.)

Os críticos rejeitam o esporte, também chamado de luta na jaula, como sendo uma briga de galos humanos.

Hoje o UFC, que produz eventos em todo o mundo, tem programas de TV em 150 países e em 22 línguas. Um reencontro entre o campeão peso-médio Anderson Silva, do Brasil, e o adversário americano Chael Sonnen, marcado para junho no Rio de Janeiro, deverá atrair mais de 55 mil fãs.

Para a geração que cresceu junto com as artes marciais mistas e jogando Street Fighter 2, o esporte passou a representar tudo o que o boxe antes significava para seus pais e avós: a medida definitiva da masculinidade, resistência e coragem.

A ideia por trás do MMA é que o lutador pode usar qualquer estilo de luta -jiu-jitsu, caratê, boxe, luta livre- para dominar o adversário. Os lutadores usam luvas com acolchoado mínimo e as disputas se realizam em jaulas para que ninguém possa cair para fora. O resultado é geralmente sangrento, o que, segundo os torcedores, não deixa dúvidas sobre quem é o melhor combatente.

"Eu diria que se o boxe é o esporte suave, então o MMA é completo", disse Chris Groves, 19, um estudante da Flórida. "É uma luta completa, de verdade."

Muitos pais acham surpreendente a atração de seus filhos pelo esporte. Alguns apontam suas origens no filme "Clube da Luta", de 1999, cuja repercussão foi muito além de seu modesto faturamento nas bilheterias.

Jan Redford, de Squamish, Colúmbia Britânica (Canadá), disse que seu filho Sam, hoje com 20 anos, se tornou um fã das artes marciais mistas aos 15 anos, por causa do filme e do interesse entre seus colegas.

"Eu acho que tem muito a ver com chocar os pais e fazer o contrário deles", disse Redford, que se identifica como uma pacifista. "Isso me horroriza."

Outros pais veem a coisa em termos menos apocalípticos. Tim Parrott, 42, de Bedford, Nova York, disse que seu filho de 10 anos, Max, tornou-se um fã depois de ver uma luta do UFC na TV há três anos. "Esses são os novos super-heróis das crianças", disse sobre os lutadores. "As pessoas não acordam hoje e querem ser Sugar Ray Leonard. Elas querem ser Georges St-Pierre [o atual campeão do UFC]."

Robert Thompson, professor de cultura popular na Universidade de Syracuse, no Estado de Nova York, disse que muitos de seus alunos querem escrever trabalhos sobre o esporte. Eles tendem a ser "realmente bons alunos", disse. "Não é algo que os jovens inteligentes desprezam."

Ele concordou que "Clube da Luta" se tornou um manifesto para uma geração de rapazes que se sentiam alienados de sua masculinidade. "Essa era a coisa deles e eles se definiam de acordo."

Para os que têm mais de 35 anos, as artes marciais mistas permanecem um mistério. Parte do motivo é que durante a maior parte de sua história nos EUA o MMA foi proibido em muitos Estados e quase ausente da TV, porque as redes a cabo se recusavam a transmitir lutas violentas, que durante anos foram travadas quase totalmente sem regras.

Essa proibição parece ter alimentado a ascensão do esporte. Na década de 1990, os fãs muitas vezes trocavam vídeos das lutas. A rede de trocas também ajudou a ligar o MMA à internet.

"Essa é uma parte do motivo pelo qual o MMA é um esporte jovem, porque está ligado à geração da internet", disse Genia.

Nas lutas, as emoções e a testosterona correm soltas. Existem socos com os punhos, posturas e gritos por movimentos estranhamente específicos ("Monte nele!").

Em um recente encontro em Atlantic City, Nova Jersey, Thomas Ettari, 34, um professor de Bayville, em Nova Jersey, explicou a atração pelo esporte: "Você não fica apenas de pé dando socos", disse. "É realista, mas também tem regras."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.