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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Raça ainda influencia eleições nos EUA

POR SABRINA TAVERNISE

STEUBENVILLE, Ohio - Há quase três anos e meio, uma família negra habita a Casa Branca e na maior parte do tempo o mais notável a respeito desse fato é como ele se tornou pouco notável para os Estados Unidos. Embora Barack Obama vá ser para sempre lembrado como o primeiro presidente negro dos EUA, sua origem mestiça raramente veio à tona explicitamente em meio ao tumulto de uma recessão, de duas guerras e de mudanças nas tendências políticas.

Mas, no momento em que Obama se prepara para uma acirrada batalha pela reeleição, a questão racial continua sendo um fator poderoso junto a um pequeno grupo de eleitores -especialmente, segundo pesquisas, os que estão em regiões economicamente abaladas, com altas proporções de brancos proletários, como neste tradicional reduto democrata.

Obama teve uma vitória apertada neste condado em 2008 -48,9%, contra 48,7% para o republicano John McCain. Dada a importância estratégica de Ohio, onde a vitória ou derrota deve acontecer por estreitíssima margem, a importância dada por um pequeno grupo à raça de Obama pode ter implicações no resultado final.

"Certas seções deste condado não vão votar em Obama", disse John Corrigan, servidor judicial do Condado Jefferson, que recentemente tomava café com amigos. "Todos nós sabemos por quê." O aposentado Jason Foreman atalhou: "Eu vou dizer: é porque ele é negro".

Assessores de Obama dizem que o sentimento racial não é uma grande preocupação. A estratégia da campanha se baseia principalmente em ter um desempenho expressivo em cidades e áreas suburbanas, de modo a compensar eventuais derrotas em outras partes de Ohio.

A campanha obamista raramente discute a raça do presidente. Mas, em abril, Obama disse que a questão racial nos EUA continua "complicada".

Os pesquisadores há muito tempo sofrem para quantificar o preconceito racial na política eleitoral, em parte porque entrevistados em pesquisas raramente admitem-no. Em 50 entrevistas realizadas recentemente nos EUA ao longo de três dias, cinco pessoas citaram diretamente a raça como razão para não votar em Obama.

"Digo de cara: ele foi eleito por causa da sua raça", disse a bancária Sara Reese, que declarou não votar em Obama, embora seja eleitora habitual do Partido Democrata.

Mas as principais divergências dos democratas daqui em relação a Obama não têm nada a ver com a raça. Elas incluem a oposição inicial do presidente ao oleoduto Keystone, para trazer petróleo do Canadá, sob a alegação de que a obra prejudicaria esta região mineradora. E a economia, que cresce em nível nacional, aqui continua estagnada. Um terço dos moradores é pobre, o dobro da taxa nacional.

Stephanie Montgomery, uma negra com formação universitária, disse que a questão da raça surge com frequência ao procurar emprego. O sinal: quando a atenção ao telefone se transforma em frieza pessoalmente e "deixam de fazer contato visual".

Ela disse que votou em McCain em 2008 porque preferia sua plataforma mais conservadora, mas que Obama parecia atrair críticas em parte por causa da sua raça.

"Ele é tudo que eles [ultraconservadores] odeiam", afirmou. "Um filhote da ação afirmativa. Levou o Prêmio Nobel sem merecer."

Muitos que citaram a raça como preocupação se referiram a Obama como um candidato falho, levado à vitória por negros que votavam pela primeira vez. Outros manifestaram desconfiança sobre sua origem e dúvidas sobre sua religião.

"Ele dizia: 'Aqui estou, sou negro e tenho orgulho'", afirmou a bancária Lesia Felsoci num restaurante local. "Os negros votaram nele, por isso ele venceu. Foi ignorância negra."

A raça também ajudou Obama. Ela elevou o comparecimento dos negros às urnas em 2008 e alguns eleitores mais jovens disseram ter votado nele em parte por causa disso. Os negros representaram 13% do eleitorado na disputa presidencial de 2008, dos quais 95% votaram em Obama; 54% dos eleitores jovens também.

Diane Woods, dona da lanchonete Pee Dee's, disse que a mera aparição da questão racial em 2008 "mostrou como ainda estamos divididos" e disse: "Os negros votaram pela primeira vez porque ele é negro enquanto todos esses brancos dizendo: 'Ah, é mais um voto de algum viciado em drogas'".

Quanto à eleição do próximo 6 de novembro, ela pretende votar de novo em Obama, porque "quando ele fala, faz sentido".

Jeff Zeleny colaborou com reportagem de Washington

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