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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Carbono dá pistas sobre extinção

POR ALANNA MITCHELL

Talvez nunca fique tão conhecida quanto a extinção cretácea, que matou os dinossauros. Mas a extinção permiana, há 252 milhões de anos atrás, foi de longe a mais catastrófica dos cinco surtos conhecidos de eliminação de espécies no planeta.

Não admira que seja chamada de Grande Morte: os cientistas calculam que cerca de 95% das espécies marinhas e uma porcentagem incalculável mas provavelmente semelhante de espécies terrestres, foram extintas em um instante geológico.

A causa ou as causas continuam sendo um mistério. Entre as hipóteses estão um devastador ataque de asteróides, como na extinção cretácea, uma erupção vulcânica catastrófica e uma ascensão de água sem oxigênio das profundezas do oceano. Hoje, análises de fósseis apontam um caminho diferente para se pensar o problema.

Cientistas da Universidade Stanford e da Universidade da Califórnia em Santa Cruz adotaram uma abordagem celular, que considera o que aconteceu dentro das células dos animais para exterminá-los.

Depois de analisar fósseis do período, Matthew E. Clapham, um cientista em Santa Cruz, e Jonathan L. Payne, um geoquímico de Stanford, concluíram que os animais com esqueletos ou conchas feitas de carbonato de cálcio tinham maior probabilidade de morrer do que os com esqueletos de outras substâncias. E os animais com poucas maneiras de proteger sua química interna tinham maior probabilidade de desaparecer.

Os cientistas concluíram que os animais morreram devido à falta de oxigênio dissolvido na água, um excesso de dióxido de carbono, a menor capacidade de fazer conchas de carbonato de cálcio, alteração da acidez do oceano e elevação da temperatura da água. O resultado foi uma mudança completa nos animais predominantes no oceano em apenas 200 mil anos ou menos, disse Clapham.

Entre os mais atingidos estavam os corais e todas as espécies de trilobitas que desapareceram. Mas os gastrópodes, como caramujos e moluscos, tornaram-se as criaturas dominantes. E essa mudança levou à composição da vida nos oceanos de hoje. "A ecologia marinha moderna é moldada pelos espasmos de extinção do passado", disse Clapham.

Então, o que aconteceu para causar todos esses estresses fisiológicos? Os cientistas concluíram que havia ocorrido uma grande infusão de carbono na atmosfera e no oceano. Mas nem um ataque de asteróides nem uma elevação da água desprovida de oxigênio das profundezas oceânicas explicariam o padrão seletivo da morte.

Os cientistas suspeitam que a resposta esteja no maior acontecimento vulcânico dos últimos 500 milhões de anos -as erupções que formaram as Armadilhas Siberianas, a região montanhosa em forma de escada no norte da Rússia. Quantidades catastróficas de gás carbônico foram lançadas na atmosfera, causando a acidificação e o aquecimento do oceano e de vastas áreas de água oceânica pobre em oxigênio.

Clapham ficou surpreso ao ver como essas conclusões se equiparam às tendências atuais na química oceânica.

Andrew H. Knoll, um geólogo da Universidade de Harvard que escreveu um trabalho seminal em 1996 explorando as consequências de um rápido aumento no dióxido de carbono na atmosfera sobre os organismos, disse: "O que estamos vendo hoje e o que está previsto para os próximos dois séculos é uma pista ao que pensamos que aconteceu no passado".

Notando que as semelhanças não são exatas, Clapham disse que os corais são as criaturas mais vulneráveis no oceano pelo mesmo motivo que o eram durante a extinção permiana. Eles têm pequena capacidade de governar sua química interna e dependem do carbonato de cálcio.

Hans Pörtner, um ecofisiologista animal no Instituto Alfred Wegener em Bremerhaven, Alemanha, também advertiu que as tendências entre os dois períodos não são exatamente comparáveis, mas notou que o carbono está sendo injetado na atmosfera hoje muito mais depressa do que durante a extinção permiana.

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