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Gaza Journal

Escolas do Hamas ensinarão hebraico

Por JODI RUDOREN

GAZA - Alguns colégios geridos pelo Hamas em Gaza vão adotar no próximo semestre uma disciplina optativa chamada "Conheça seu Inimigo".

Trata-se de uma aula de hebraico, começando pelo "aleph-bet", as primeiras das 22 letras dessa escrita. Desde 1994, a língua deixou de ser ensinada nas escolas públicas de Gaza e em abril, após muito debate, ela foi incluída no currículo opcional.

"Por intermédio da língua hebraica podemos entender a estrutura da sociedade israelense, a forma como eles pensam", disse Mahmoud Matar, diretor-geral do Ministério da Educação local, controlado pelo Hamas.

"A língua árabe é uma coisa básica para os israelenses, e eles a usam para conseguir o que querem", acrescentou. "Nós vemos Israel como um inimigo. Ensinamos aos nossos alunos a língua do inimigo."

A Faixa de Gaza se orgulha da sua educação: o analfabetismo juvenil era inferior a 1% em 2010, segundo o Banco Mundial.

O curso de hebraico começará em setembro em 10 a 20 colégios, segundo Matar. Se der certo, será ampliado para todas as 180 escolas de ensino médio do território.

Menna Malahi, 14, participará das primeiras turmas. Seus pais, como muitos aqui, falam um pouco de hebraico. O seu pai, a exemplo de milhares na geração dele, trabalhou na construção civil em Israel anos atrás. Já sua mãe estudou a língua na escola, quando Israel ocupava Gaza. "Os israelenses costumavam vir a Gaza e podem vir de novo no futuro", disse, em árabe.

Alguns veem as aulas como um treinamento para futuros espiões, enquanto outros têm objetivos mais práticos: preencher formulários para procedimentos médicos em Israel, entender as notícias - e os desenhos animados - transmitidos via satélite.

Árabe e hebraico são duas línguas semíticas e partilham até 40% da gramática e dos radicais das palavras, segundo especialistas.

Há algumas aulas de hebraico para adultos em Gaza, embora o número de matriculados tenha caído a poucas centenas por ano, segundo Jamal al Haddad, que dirige o programa.

Numa dessas aulas, seis alunos faziam uma revisão para a prova final. O professor perguntou onde eles haviam estado ontem ("ba'avodah sheli", no meu trabalho, "babayit", em casa). Uma mulher de véu foi à lousa escrever palavras nas suas formas masculinas e femininas: "ish" e "isha" (homem e mulher), "tov" e "tovah" (bom/boa), "katav" e "katvah" (passado de "escrever").

"O hebraico para os árabes não é difícil", disse Subhi Bahloul, que supervisiona os programas de línguas no Ministério da Educação de Gaza.

Bahloul disse ter mestrado em hebraico pela Universidade de Tel Aviv, e que em breve pretende se doutorar. "Inshallah", disse ele, usando o termo árabe que significa "se Deus quiser", e com o qual ele pontua suas frases em árabe, em inglês e também em hebraico.

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