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Avanços oferecem opção antes impensável aos amputados

Próteses cobram preço do que restou do membro real

Por ALEXIS OKEOWO

Ann Kornhauser caminhava na rua quando, de repente, os ossos de seu pé esquerdo estalaram. O motivo foi um raro tumor, que fez com que os médicos tivessem que amputar metade de seu pé.

A prótese que ela recebeu lhe causava dores constantes. Seu médico lhe ofereceu uma solução. Os membros artificiais, segundo ele, haviam melhorado muito, e ela poderia se beneficiar de um dos modelos modernos -mas ele só encaixaria se a perna dela fosse amputada abaixo do joelho.

A ideia de perder o resto da perna, que era saudável, parecia absurda e assustadora. Mas após dois anos de desconforto, Kornhauser decidiu fazer isso.

"Tudo o que a minha família disse foi: 'Você vai ficar sem uma perna'. Mas eles não sabiam o que eu sabia", contou ela. "Eu sabia que as pessoas corriam maratonas em cima delas. Eu sabia que teria uma vida."

Isso foi há cinco anos. Numa recente entrevista, essa alegre avó de 63 anos arregaçou a calça cinza para revelar uma perna com uma pele de silicone customizada e um tornozelo que pode ser ajustado a várias alturas de saltos. "Fui capaz de caminhar outra vez", disse ela. "E ela parece real."

Com o avanço tecnológico dos membros artificiais, muitos amputados estão, como Kornhauser, tomando uma decisão antes impensável. Ao invés de fazer de tudo para preservar o que restou dos membros, alguns estão optando por amputá-los mais.

Próteses biônicas, ou realistas, com peles customizadas, motores e microchips que replicam os movimentos humanos naturais estão expulsando os modelos anteriores do mercado. O velocista sul-africano Oscar Pistorius, duplo amputado, chegou a ser acusado de ter uma vantagem injusta nas pistas por correr com lâminas de fibra de carbono.

Poucos amputados "têm vontade de que o membro artificial pareça humano", disse Hugh Herr, chefe do grupo de pesquisas em biomecatrônica do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), que está desenvolvendo aparelhos robóticos para uso corporal. "Eles querem que pareça interessante e tenha uma beleza de máquina."

O major do Exército David Rozelle disse que seu médico ficou horrorizado quando ele pediu a amputação de 23 centímetros de sua perna, para que ele pudesse se beneficiar de uma nova prótese abaixo do joelho. O major tinha tido o pé direito estraçalhado por uma mina no Iraque.

"A comunidade médica está inteiramente focada em salvar membros", disse Rozelle, 39. "Há, na verdade, uma desvantagem em ter um comprimento de membro adicional, porque você não consegue se encaixar corretamente nos dispositivos protéticos."

Ele fez a operação e agora possui vários modelos de sofisticadas pernas robóticas, utilizadas para atividades cotidianas e para praticar esportes, como o esqui. Muitos amputados que optam pelas cirurgias mais agressivas são esportistas como Rozelle, e querem retomar as suas atividades.

As famílias dos amputados, compreensivelmente preocupadas, raramente se entusiasmam com os procedimentos drásticos. Para Michael LaForgia, foi complicado convencer a mulher.

Maratonista e gerente de programa do JPMorgan Chase em Smithtown, Nova York, LaForgia contraiu uma meningite bacteriana em 2005, e em decorrência disso perdeu os dedos do pé esquerdo e os dedos, calcanhar e arco do pé direito. Os médicos tentaram reconstruir o pé direito com músculos removidos das costas, mas ele não conseguia calçar sapatos normais, correr, pedalar ou continuar a treinar os times de beisebol e futebol dos seus filhos.

LaForgia ficou "aliviado e animado" por amputar a perna direita um ano e meio depois, para receber uma prótese de alta atividade. Ele mais tarde recebeu uma prótese parcial para o pé esquerdo que lhe permitiu correr. "Eu quis me livrar daquele pé. Ele simbolizava tudo o que eu não conseguia fazer", disse.

A tecnologia para próteses está avançando rapidamente. Pesquisadores financiados pela Agência de Pesquisa de Projetos Avançados de Defesa dos EUA estão trabalhando para criar novas próteses para soldados com amputações na extremidade superior. A meta é produzir membros artificiais que veteranos possam controlar com o cérebro. A revista "Nature" recentemente relatou uma experiência em que duas pessoas com lesões cerebrais severas efetivamente controlavam um braço protético apenas com seu pensamento.

Para o ultramaratonista Amy Palmiero-Winters, 39, que perdeu uma perna em um acidente de moto, os amputados "estão percebendo que podem fazer tudo o que faziam antes".

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