Índice geral New York Times
New York Times
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ecossistemas prosperam no teto da Amazônia

Por CARL ZIMMER

No extremo norte da Amazônia, erguem-se algumas das mais notáveis montanhas da Terra. Conhecidas como tepuis, um tipo de meseta, elas geralmente estão rodeadas por paredões de pedra que se erguem a milhares de metros acima das planícies florestais dos arredores. Em vez de picos, os tepuis têm enormes áreas planas nos seus topos. Eles são como ilhas no céu, cobertos por florestas baixas e arbustos que abrigam uma diversidade de animais como sapos e lagartos.

Em artigo a ser publicado na revista "Evolution", uma equipe de cientistas relata o primeiro estudo de DNA que trata de uma antiquíssima pergunta acerca dos tepuis: como os animais e plantas que lá vivem foram parar em um local tão inacessível? Os pesquisadores se concentraram em minúsculas pererecas que vivem exclusivamente no alto dos tepuis. Eles chegaram a uma conclusão surpreendente: nos últimos milhões de anos, os sapos escalaram os colossais penhascos dos tepuis.

"Viamos esses paredões como impossíveis de serem escalados", disse a bióloga evolutiva Patricia Salerno, da Universidade do Texas, autora principal do estudo. "Mas para esses sapos é possível chegar lá em cima."

Os tepuis devem muito de sua fama ao romance "O Mundo Perdido" (1912), em que Arthur Conan Doyle se baseou nos relatos de exploradores para imaginar um ecossistema isolado no topo de um tepui, onde dinossauros e pterossauros ainda viviam.

Os tepuis são diferentes dos Andes, não muito distantes, que se formaram como tantas cordilheiras, pela colisão de duas placas continentais há 25 milhões de anos, empurrando camadas de rochas para cima. Os tepuis são muito mais velhos. As camadas mais altas se formaram pelo depósito de areia no fundo de oceanos há mais de 2 bilhões de anos. O arenito mais tarde subiu e virou terra seca. Começou a sofrer erosão e a se fragmentar há cerca de 300 milhões de anos, e há uns 70 milhões os tepuis se ergueram acima da planície.

Ainda mais intrigante do que o longo isolamento dos tepuis é o fato de que muitas espécies que habitam seu topo não são encontradas em nenhum outro lugar. Para muitos biólogos, a única explicação para isso é que os ancestrais desses animais e vegetais viviam há mais de 70 milhões de anos sobre os tepuis.

Salerno escolheu estudar as pererecas porque elas se deslocam muito pouco ao longo da vida, e 90% das espécies de sapos que vivem sobre os tepuis não existem em nenhum outro lugar. Os pesquisadores compararam o DNA de quatro espécies muito próximas de pererecas, cada uma encontrada em um tepui diferente. Eles também analisaram o DNA dos seus parentes mais próximos nas planícies. Se a espécie estivesse no seu tepui desde a formação deste seu ancestral comum deveria ter pelo menos 70 milhões de anos.

Mas a pesquisa revelou que o ancestral comum das quatro pererecas dos tepuis viveu há cerca de 5,3 milhões de anos. Algumas espécies divergiram há apenas algumas centenas de milênios.

Roy McDiarmid, herpetólogo do Instituto Smithsonian, em Washington, acha que só há poucos milhões de anos as pererecas tenham escalado os tepuis.

No entanto, os estudos de McDiarmid com sapos sugerem que eles vivem sobre os tepuis há 70 milhões de anos. "É preciso mais análises do DNA", disse.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.