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Bailarinos dançam com aves em "Swan"

Por AMY SERAFIN

ARCHIGNY, França - O velho celeiro tinha cortinas pretas nas paredes e um balde de ração em um canto. No chão, uma bailarina estava sentada entre dois cisnes. Quando ela levantou as mãos, eles estenderam os pescoços em uma imagem espelhada. De repente, uma das aves a bicou. "Ai! Pollux! Minha orelha não!", disse a bailarina.

"Swan" [Cisne], que foi apresentado este mês no Teatro Nacional de Chaillot, em Paris, pelo coreógrafo francês Luc Petton e sua companhia, Le Guetteur, não é apenas mais uma versão de "O Lago dos Cisnes". É sobretudo um balé original que reúne seres humanos e cisnes.

Petton, 55, atribui seu fascínio pelas aves à sua infância no litoral da Bretanha. "Eles transmitiam a poesia da vida, a despreocupação", disse. "Para mim, a bailarina é prima da ave."

Oito anos atrás, ele usou um processo desenvolvido nos anos 1950 pelo etologista austríaco Konrad Lorenz para estabelecer o relacionamento entre pessoas e aves. "Quando incubamos artificialmente ovos, os filhotes ficam ligados à primeira pessoa com quem tiverem contato", explicou Michel Saint Jalme, diretor do zoológico do Jardin des Plantes em Paris.

Em 2005, Petton apresentou "A Confiança dos Pássaros", em que gralhas e estorninhos interagiam com os bailarinos. As aves tinham liberdade para ir aonde quisessem no palco e constantemente voltavam para seus parceiros humanos.

Depois, ele aplicou seu método em cisnes, um dos símbolos mais duradouros da dança. Ele obteve ovos em zoológicos e depois transportou os filhotes para uma fazenda.

Em 2010, seis bailarinas profissionais se revezaram durante semanas com as aves. Elas conversavam com os cisnes, os alimentavam e passeavam com eles, enquanto os pássaros beliscavam suas orelhas e narizes e montavam em suas costas, deixando-as com arranhões.

Uma bailarina, Katia Petrowick, disse: "Nós queríamos que eles se acostumassem com nossos corpos desde o início, para que pudessem dançar conosco e não se assustassem quando levantássemos uma perna."

Petton construiu seu espetáculo a partir das imagens que viu. O trabalho final combina coreografia e improvisação.

Marie-Agnès Gillot, uma das primeiras bailarinas do Balé da Ópera de Paris que dançou Odile-Odette em "O Lago dos Cisnes", visitava frequentemente a fazenda e dançava com os animais. "É como uma parceria com grandes artistas", diz, "onde com uma simples respiração você sabe o que o outro vai fazer." Ela percebeu na sua experiência que o gesto clássico de braços no balé para o bater de asas é para trás. Hoje, quando ela se apresenta, move os braços de trás para a frente.

No "Swan" de Petton, ao contrário do de Tchaikovsky, cisnes negros aparecem na primeira metade do espetáculo em um rio cênico que deve representar o Styx. Entre eles, uma bailarina passa flutuando como um cadáver. Cisnes brancos aparecem na segunda metade caminhando desajeitados com seus pés em forma de espátula. A partitura original é improvisada para combinar com a ação.

Dominique Hervieu, que convidou a companhia de Petton para se apresentar no Teatro de Chaillot, ficou surpresa com a originalidade do que viu. "Essas imagens nos levam ao reino do surrealismo, da hibridização, a algo quase medieval", disse.

Além dos típicos desafios de uma nova produção, dois pássaros morreram de causas naturais. Dois machos tornaram-se agressivos e tiveram de ser aposentados. Nos bastidores, os cisnes negros e os brancos devem ser mantidos separados para não brigarem.

Petton já planeja seu próximo trabalho, com morcegos.

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