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As brincadeiras dos corvos e outras histórias aladas

JAMES GORMAN
ENSAIO

O comportamento animal pode ser uma fonte de surpresas intermináveis. Mas "Gifts of the Crow" [Presentes do corvo], de John N. Marzluff e Tony Angell, contém a descrição de algo que nem Esopo imaginou.

"Na ilha de Kinkazan, no norte do Japão, os corvos da floresta apanham fezes de cervos -bolinhas secas- e habilmente as colocam nos ouvidos dos cervos."

Eu verifiquei as anotações no fim do livro e esse relato vem de outro livro escrito em japonês. Por isso não posso dar mais informação sobre essa afirmação surpreendente, além de dizer que o doutor Marzluff, da Universidade de Washington, e Angell, um artista e observador de pássaros, acham que os corvos fazem isso para se divertir.

As fezes de cervos são apenas um dos presentes dos corvos. O verdadeiro foco dos autores está no modo como essas aves podem nos dar "a efêmera e profunda conexão com a natureza que muitas pessoas almejam".

Muitos comportamentos que eles descrevem -corvos que bebem cerveja e café, assobiam e chamam cães e que dão presentes para as pessoas que os alimentam- se baseiam em depoimentos pessoais. Mas o livro também está cheio de relatos claros e detalhados de pesquisa científica, com descrições da estrutura do cérebro do corvo.

"A descoberta da linguagem em um animal silvestre não será surpreendente", escrevem os autores. "Conforme a ciência se torna mais sofisticada em equiparar a reação dos animais a nuances em suas vocalizações, poderemos descobrir uma linguagem de aves e mamíferos cognitivos que rivalizam com a nossa."

Vou discordar: a descoberta de uma linguagem equiparável à nossa em animais silvestres seria uma enorme surpresa científica.

Outro livro, "Bird Sense" [Sentido das aves], se mantém perto da ciência dura ao abordar o tema de seu subtítulo, "Como é ser um pássaro". O autor, Tim R. Birkhead, da Universidade de Sheffield na Inglaterra, também faz declarações incríveis. Por exemplo: "Se você colocar o ouvido sobre um buraco de minhoca, às vezes conseguirá escutar as minúsculas cerdas do verme raspando contra as paredes".

O doutor Birkhead escreve sobre isso em conexão com estudos que mostram que os sabiás podem encontrar minhocas com seu sentido da audição. Ele tem muitas descobertas intrigantes sobre os muitos sentidos das aves, incluindo seu sentido magnético. Elas podem voar com um olho fechado e metade do cérebro adormecido.

Ele reconhece que, afinal, a ciência não pode realmente dizer como é ser uma ave. Mas a tentativa de compreender o que uma ave vê, escuta, sente e pensa certamente vale o esforço.

Os dois livros juntos são notáveis em sua celebração das aves, sobretudo porque nenhum deles dá muita consideração a uma característica desses animais que, mais que qualquer outra, cativa os seres humanos: o voo.

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