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Chineses debatem modelo de "vestibular" do país

Por EDWARD WONG

PEQUIM - Milhões de colegiais em toda a China estão ligando furiosamente para "linhas 0800" telefônicas ou se reunindo com membros da família ao redor do computador doméstico nos últimos dias, em um ritual não muito diferente daquele de esperar por um número vitorioso na loteria.

O número, neste caso, é a nota do que é geralmente considerado o teste mais importante que qualquer cidadão chinês pode fazer -o gaokao, o exame de entrada na faculdade (aos moldes do vestibular brasileiro).

Em um país onde a educação é muito valorizada, a nota que um estudante tira define sua vida. A nota determina não apenas se um jovem irá para uma universidade chinesa, mas também para qual -uma escolha crucial para as perspectivas profissionais.

Mas o debate parece ter se tornado mais acalorado ultimamente sobre o valor do gaokao. Críticos dizem que o exame promove o tipo de aprendizado decorado que é endêmico na educação chinesa e que desvaloriza a criatividade. Ele causa um enorme estresse psicológico nos estudantes. E o sistema favorece os estudantes das grandes cidades e das famílias ricas, apesar de ter sido projetado para criar possibilidades de acesso universitário para toda a juventude chinesa.

Em junho, um programa na TV criticando o exame por Zhong Shan, um anfitrião de programa de entrevistas, tornou-se um ponto focal de fúria contra o gaokao e o sistema educacional chinês.

Talvez mais chocante tenha sido a história de Liu Qing, uma estudante cuja família e professores lhe esconderam durante dois meses o fato de que seu pai tinha morrido. Eles não queriam perturbá-la antes do exame.

"Será que não há uma maneira de podermos evitar que a geração mais jovem, o futuro de nossa nação, cresça em uma atmosfera tão temível, desesperada e cruel?", disse Zhong em seu programa.

Os defensores dizem que o teste é um componente crucial em uma meritocracia, permitindo que estudantes de regiões pobres ou das áreas rurais disputem lugares nas melhores universidades. Não importa que um sistema de cotas baseado na residência signifique que é muito mais fácil para os candidatos de cidades como Pequim e Xangai entrarem nas universidades de lá, consideradas as melhores da China.

Uma reportagem da agência de notícias estatal Xinhua disse que dos 9,15 milhões de estudantes que fizeram o gaokao neste ano, cerca de 75% seriam admitidos em universidades na China continental. Depois que os estudantes recebem as notas, eles apresentam às autoridades educacionais uma lista de universidades, classificadas por ordem de opção.

Muitas universidades reservam alguns lugares para estudantes admitidos com base em mérito especial, como talento musical, habilidades com línguas estrangeiras ou proezas atléticas, como nos EUA. Os estudantes de minorias étnicas às vezes conseguem uma vantagem.

Também houve uma crescente tendência de os estudantes chineses se inscreverem em universidades fora do território continental. Muitos pais -incluindo altos líderes do partido- não apenas valorizam um diploma estrangeiro, como também querem que seus filhos evitem o estresse do gaokao. Gao Haicheng, um estudante de terceiro ano colegial em Kunming, disse que pretendia se inscrever em universidades no exterior. Embora evitar o gaokao não seja seu principal objetivo, Gao disse que o exame "é um grande problema no sistema educacional da China".

"Na China, eles só usam notas para explicar alguma coisa", acrescentou ele.

Todo ano, escândalos de cola tornam-se muito falados na China. Uma tática comum é os estudantes darem sua carteira de identidade para pessoas parecidas que fazem o teste. Em 2008, três garotas da província de Jiangsu foram apanhadas com minicâmeras dentro de seus sutiãs. Elas iam transmitir imagens para pessoas fora da sala de aula, que então lhes enviariam as respostas. Neste ano, o grande escândalo envolveu estudantes de Huanggang, na província de Hubei. Dezenas deles foram apanhados usando pequenos monitores, que custam US$ 2.500 e parecem borrachas, que permitiam aos estudantes receberem mensagens com respostas do exame.

Zhang Qianfan, um professor de direito na Universidade de Pequim, disse que apesar do boom na construção de universidades na China, ainda faltam lugares nas universidades. Neste ano, há 7 milhões de vagas, 2 milhões a menos que o número de alunos que prestam o exame gaokao.

Yang Taoyuan, 18, estudante de Kunming, disse que colocara como sua principal opção a Universidade de Xangai para Ciência e Tecnologia. Mas disse que se tivesse se saído melhor poderia ter colocado a Universidade da Aviação Civil da China em Tianjin.

"Eu fui o melhor aluno da minha classe, por isso estou bastante feliz com o resultado", disse. "Mas não é o suficiente para me colocar na faculdade que desejo cursar."

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