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Argentina vira polo de drogas

Por EMILY SCHMALL

BUENOS AIRES - Héctor Jairo Saldarriaga, conhecido como "Adaga", mudou seu endereço aqui três vezes em poucas semanas, antes que seu assassino finalmente o encontrasse em abril, na frente de um café de sua família no bairro de classe média de Barrio Norte.

A polícia descobriu que ele tinha três passaportes argentinos com nomes falsos, mas na verdade era um colombiano que havia trabalhado como assassino para um traficante de drogas colombiano.

Enquanto o tráfico de drogas prospera na Argentina, a população se acostuma com as notícias de primeira página de batidas policiais, tiroteios e a dura realidade de que o país não é mais um ponto de passagem para os mais procurados traficantes do mundo, de lugares como México e Colômbia. Para muitos desses foras-da-lei, a Argentina tornou-se uma base.

Saldarriaga, 39, estava entre os mais temidos assassinos que trabalhavam para Daniel Barrera Barrera, um barão das drogas colombiano da segunda geração apelidado de "Louco", dizem as autoridades.

Mas segundo a polícia Saldarriaga pode ter traído seu patrão ao perder ou roubar cerca de 500 kg de cocaína. Outra teoria é de que ele havia tentado se ramificar como traficante em uma área da Argentina controlada pelo cartel das drogas de Sinaloa, do México, e foi punido por invasão.

Saldarriaga não é o único estrangeiro famoso envolvido no tráfico de drogas que estrela os noticiários.

Em 2010, autoridades de segurança argentinas prenderam Angie Sanclemente Valencia, uma antiga miss colombiana, sob a suspeita de dirigir um círculo de modelos traficantes de drogas, incluindo uma argentina de 21 anos que foi apanhada tentando voar de Buenos Aires para Cancún, no México, com 55 kg de cocaína na bagagem.

A jovem deu informações sobre Sanclemente, que foi localizada com a ajuda da Interpol cinco meses depois em um albergue da juventude de Buenos Aires e está servindo uma pena de prisão de seis anos e oito meses.

Diferentemente dos governos de outros países da região, o da Argentina ainda não dirigiu o poder total de seus militares contra os traficantes. "Eles não encontraram qualquer problema nos tribunais -não há guerra ao tráfico na Argentina-, por isso eles atuam aqui com toda a tranquilidade", disse Claudio Izaguirre, presidente da Associação Antidrogas da República Argentina.

A ministra da Segurança, Nilda Garré, em um esforço para mostrar sua decisão de atacar os traficantes, faz anúncios quase diários sobre a última batida contra traficantes, ou a descoberta de um laboratório de drogas sintéticas.

"O tráfico de drogas responde à lógica da globalização. Ele não reconhece fronteiras", disse a ministra. "No entanto, devo destacar que a Argentina, um país de 40 milhões, é um mercado de interesse marginal para traficantes de drogas decididos a alcançar áreas de consumo de massa nos Estados Unidos e na Europa", afirmou ela em uma declaração.

Segundo o Escritório da ONU para Drogas e Crime, a Argentina teve maior incidência de uso de cocaína nas Américas Central e do Sul entre pessoas de 15 anos a 64 anos (25% dos usuários da região), perdendo para o Brasil.

"Em termos de acesso, você pode encontrar a cocaína em qualquer esquina", disse Martín Iribarne, um especialista em dependências e diretor da Fundação San Camilo, que opera um centro de reabilitação de drogas na província de Buenos Aires. "No início, nós aceitamos que os cartéis viessem aqui a caminho de outros lugares. Depois foi o nosso mercado."

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