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Privatização desacelera em Cuba

Por VICTORIA BURNETT

HAVANA - Quase dois anos depois da reestruturação econômica do governo cubano destinada a enxugar o funcionalismo público e promover as empresas privadas, as reformas desaceleraram tanto que muitos cubanos questionam a capacidade da liderança envelhecida -ou sua vontade- de reformar um dos últimos sistemas comunistas do mundo.

O pessimismo aumentou em julho por causa de uma decisão pouco divulgada do governo de cobrar altas tarifas alfandegárias sobre as importações informais que são a linha vital de muitas novas empresas.

"Isso poderá ter um impacto enorme", disse Emilio Morales, presidente do Grupo de Consultoria de Havana. Segundoe ele, as lojas estatais em Cuba estão perdendo negócios para os camelôs. "Isso mostra que o Estado não está pronto para competir com o setor privado."

Quase 250 mil cubanos optaram por trabalhar como autônomos nos últimos 20 meses. Acrescentados aos que aproveitaram uma experiência de privatização nos anos 1990, cerca de 387 mil dos 11 milhões de cubanos hoje trabalham para si próprios.

Os cubanos também estão comprando e vendendo casas e carros uns aos outros pela primeira vez em 50 anos.

Enquanto o setor privado cresceu, também aumentou o dilúvio de produtos importados diariamente em malas e sacolas, principalmente do Panamá, do Equador, dos Estados Unidos e da Espanha. Sem um mercado atacadista, os cubanos recorrem a amigos, parentes e aos chamados mulas para tudo, desde alimentos até bijuterias e iPhones. Esse comércio paralelo inflou para mais de US$ 1 bilhão por ano, calcula Morales.

Yunilka Barrios, que vende óculos escuros, esmalte para unhas e tiras brilhantes para sutiãs em uma porta suja, ficou assustada com a perspectiva de um imposto de 100% sobre as importações informais, que entrará em vigor em setembro. "As coisas parecem estar endurecendo", disse ela.

Especialistas acreditam que o presidente Raúl Castro está agindo cuidadosamente por causa da resistência dos funcionários de nível médio que relutam em perder seus privilégios e de autoridades conservadoras nervosas sobre o impacto social e político da liberalização econômica.

O ritmo foi lento demais para Yelena López de la Paz, que faliu por causa da concorrência, falta de experiência e baixas margens de lucro. Ela abriu uma lanchonete em julho passado e teve um lucro de US$ 100 no primeiro mês. Então, três lanchonetes abriram nas proximidades e quando ela fechou a sua, em novembro, levava para casa US$ 1 por dia.

"Eu estava investindo muito dinheiro e tempo e ganhando nada", disse.

A promessa do governo em abril de transferir 40% da produção do país para o setor não estatal em cinco anos parece menos plausível, dizem especialistas.

Separadamente, o governo está entregando pequenas empresas estatais para os funcionários em algumas províncias. Ele levantou o teto de US$ 4 no valor dos contratos entre entidades estatais e indivíduos e está subcontratando parte do trabalho para operadores independentes.

"Esta é a primeira vez desde os anos 1970 ou 1980 que o país tem um plano e é a primeira vez que há disciplina para implementar a estratégia", disse Rafael Betancourt, economista de Havana.

Carlos Saladrigas, um cubano-americano, disse durante visita a Havana em março que sabia de pessoas que "ganham muito dinheiro, mesmo pelos padrões americanos".

Cerca de 12 disseram que estavam ganhando muito mais do que no setor público. Mas os suprimentos nas lojas do Estado eram caros e não confiáveis, eles disseram, e muitas vezes usavam o mercado negro.

A estudante Amarilis Albite Cabezas, 23, dirige uma lanchonete movimentada em sua casa em um subúrbio de Havana.

"Eles abriram esses negócios para que as pessoas conseguissem sobreviver", disse. "Mas não acho que alguém esteja enriquecendo. Isso seria... eu não sei... capitalismo."

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