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Mianmar abre cidade real budista a turistas

Por ANDY ISAACSON

BAGAN, Mianmar - Mais de 2.200 templos se espalham por 67 km2 de uma planície árida e escassamente povoada na margem leste do rio Irrawaddy, como resquício de uma capital real budista que atingiu seu apogeu nos séculos 11 e 12.

Os monumentos no meio da terra vermelha representam uma concentração sem igual de arquitetura religiosa, ostentando sofisticadas técnicas para a construção de cúpulas que não são vistas em outras civilizações asiáticas e complexos afrescos de um tipo que não sobreviveu bem na Índia.

"É como se todas as catedrais góticas se aglomerassem em um só ponto", afirmou Donald Stadtner, autor de vários livros sobre esses e outros locais sagrados de Mianmar.

No momento em que a ex-Birmânia se abre ao resto do mundo -e ao turismo- após décadas de regime totalitário, Bagan está longe de ser o único local a atrair o interesse dos estudiosos.

Os povos tibeto-birmaneses do sudoeste da China que colonizaram o alto Irrawaddy já a partir do século 1° d.C. deixaram grandes cidades com muros de tijolos e fossos, e evidências de engenhosas redes de irrigação.

Em Beikthano-Myo, um dos primeiros desses assentamentos, arqueólogos encontraram mosteiros e templos, ou estupas, semelhantes aos que foram erguidos por budistas no leste da Índia -marcando o local como ponto de partida para a difusão do budismo pelo Sudeste Asiático.

Bem antes da abertura política, o regime militar birmanês tentou restaurar monumentos históricos e criar museus.

Nas décadas de 1970 e 1980, as autoridades promoveram uma grande reconstrução de Bagan, que havia sido devastada por um terremoto em 1975.

A restauração, patrocinada por cidadãos birmaneses interessados em obter méritos religiosos e pelo Programa de Desenvolvimento da ONU, baseou-se principalmente em um fechado círculo de especialistas locais, e exatamente por isso foi muito criticada por acadêmicos estrangeiros.

Críticos se indignaram com o uso de materiais de construção não autênticos, como o cimento em vez do estuque, e disseram que certas características -em especial os acabamentos decorativos no alto dos monumentos religiosos- foram reconstruídas de acordo com a imaginação, e não conforme a ciência.

Alguns templos proeminentes contêm elementos incongruentes, como luzes circulares piscando em torno das cabeças das estátuas de Buda.

A arqueóloga e historiadora da arte Elizabeth Howard Moore, da Universidade de Londres, explica que Bagan acabará sendo reconhecida como Patrimônio Mundial. Os pesquisadores ainda têm muitas perguntas sobre Bagan, inclusive a natureza da vida budista na cidade e a relação entre o reino e seus vizinhos.

O novo clima político já tem atraído mais técnicos estrangeiros para adequarem o país aos padrões internacionais e o Ministério da Cultura local está ativamente dando as boas-vindas a propostas de acadêmicos internacionais.

"Isso não estava acontecendo há dez anos", disse Moore.

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