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Iene forte contrapõe gerações no Japão

Queda nos preços beneficia aposentados, mas pressiona indústrias

Por MARTIN FACKLER

À medida que o Japão vem abrindo mão de seu domínio em um setor industrial após outro, o que no passado possibilitou a grandeza econômica do país, muitos apontam culpados diversos. Um desastre nuclear que elevou os preços da energia. A falta de empreendedorismo. A força de trabalho chinesa, relativamente barata.

Cada vez mais, porém, empresários apontam para o que vêem como sendo uma ameaça mais imediata e que o governo tem poder, pelo menos em parte, para controlar: o valor muito alto do iene, que deixou as exportações japonesas, desde televisores até chips de memória, proibitivamente caros no exterior. O governo não tem feito quase nada para tentar refrear o iene, apesar da preocupação de que a moeda nacional, cuja valorização chegou a um ponto recorde, esteja aleijando a máquina de exportações japonesa, antes de importância fundamental.

Analistas e alguns políticos afirmam que uma razão importante dessa inação é simples: o iene valorizado beneficia a população idosa japonesa, em rápido crescimento, mesmo que prejudique outros setores do país. Ao acelerar a entrada no país de produtos importados mais baratos, o iene forte está contribuindo para uma queda mais ampla nos preços de bens e serviços, conhecida como deflação, que vem ajudando aposentados a esticar suas pensões e economias pessoais. A inação resultante em relação ao iene, segundo mais e mais economistas e políticos, reflete uma nova realidade política: líderes pouco decisivos hesitam em desagradar aos aposentados do "baby boom" do pós-guerra, que compõem quase um terço da população e tendem a votar em grande número.

"A tolerância do iene forte e da deflação tem suas raízes num choque de gerações", comentou Yutaka Harada, professor de ciência política na Universidade Waseda, em Tóquio.

"E os idosos estão ganhando, ao menos por enquanto."

O problema é que essa vitória hipotecao futuro, ao acelerar o esvaziamento da economia, na medida em que empresas japonesas se transferem para outros países, e contribuindo para a deflação, que já exacerbou um declínio que vem acontecendo há quase duas décadas no Japão.

Além disso, o iene alto pode ameaçar as próprias indústrias que criaram os enormes superavits comerciais que sustentam os padrões de vida ainda confortáveis dos japoneses.

Alguns aposentados enxergam o dilema de longo prazo para o Japão. O aposentado Shigeru Ono, que tem um blog sobre as vantagens da deflação, vê as vantagens do iene forte, incluindo os preços baixos das camisetas fabricadas no Vietnã e do televisor chinês de tela plana que comprou. Mas ele também enxerga os perigos.

"O iene forte e a deflação vêm beneficiando a nós, baby boomers", disse Ono, 62, que vive com suas economias e uma pensão mensal de 130 mil ienes (US$ 1.650). "Mas sei também que eles não podem ser benéficos para a geração de meu filho."

Ninguém está dizendo que seria fácil controlar o iene e as tendências macroeconômicas mundiais hoje são favoráveis à moeda.

Mas romper a paralisia do Japão fica mais difícil na medida em que cresce a influência política dos japoneses mais velhos.

Um sistema de aposentadorias enviesado e a tolerância da deflação impõem um ônus desproporcional sobre os japoneses de idade economicamente ativa, na medida em que as empresas reduzem salários ou transferem vagas de trabalho para o exterior. Os preços em queda também vêm puxando os lucros para baixo, desencorajando jovens candidatos a empreendedores a arriscar abrir companhias e empresas já existente a se expandirem.

O gabinete do primeiro-ministro Yoshihiko Noda defendeu o tratamento dado pelo governo ao iene, observando que US$ 6 bilhões em subsídios foram oferecidos às empresas para ajudá-las a escapar dos efeitos do iene forte.

Enquanto muitos economistas pedem uma mudança para uma economia manufatureira mais sofisticada, semelhante à da Alemanha, eles criticaram o primeiro-ministro por oferecer pouco dinheiro e por não garantir liderança em favor de mudanças.

O Ministério das Finanças tenta derrubar o iene. Nos últimos dois anos, agiu por quatro vezes, comprando um total de US$ 200 bilhões. Mas autoridades disseram que esses valores só suavizaram altas movidas por especuladores.

As autoridades e os economistas concordam que para frear a alta do iene seria preciso adotar muito mais ações para combater a deflação, como desregulamentar indústrias domésticas protegidas, para incentivar novos investimentos e elevar a demanda enfraquecida no país.

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