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Avanço das imitações prejudica Veneza

POR ADAM TANNER

VENEZA - Pendurado na Ponte Della Accademia, Bifal Mbaye estava atento à polícia veneziana. Ele é um dos milhares de imigrantes que vendem falsificações feitas na China de bolsas Louis Vuitton, Gucci e outras marcas em pontos turísticos da Europa.

De repente, meia dúzia de vendedores saem correndo pela ponte. Mbaye, um senegalês de 42 anos que está na Itália desde 1990, também corre. Os vendedores desaparecem em becos laterais. É uma cena que se repete cinco ou seis vezes por dia, disse Mbaye.

Os fundadores de Veneza transformaram pântanos em uma das primeiras sociedades capitalistas da Europa -e mais tarde em um grande império- através do controle do comércio de sal, pimenta, especiarias e outros produtos.

Hoje, vendedores como os senegaleses estão deslocando os mercadores de Veneza, vendendo falsificações chinesas baratas e muitas vezes ilegais de tudo, desde candelabros de vidro a quadros a óleo e bolsas de grife. "Assim como o mundo todo, fomos invadidos por produtos chineses", disse Roberto Panciera, o vice-prefeito.

Os vendedores de rua ilegais são uma visão comum nas cidades europeias. Mas a geografia compacta de Veneza dá um destaque especial aos cerca de 400 camelôs que a polícia estima que atuam diariamente na cidade italiana.

Imigrantes chineses em pequenos armazéns regionais fornecem produtos aos vendedores, disse Paolo Balistrieri, diretor de operações antifraude para a Louis Vuitton. Ele disse que os comerciantes chineses escoam os itens através de portos no norte da Europa, nos Bálcãs e outros lugares, depois enviam os produtos por caminhão para a região de Veneza.

Flavio Gastaldi, que supervisiona a polícia de rua no centro de Veneza, estimou que os melhores camelôs faturam de US$ 100 a US$ 185 por dia, às vezes mais.

Panciera disse que a maior ameaça para Veneza é contra a indústria de vidro na ilha vizinha de Murano.

A associação setorial do vidro de Murano, Consorzio Promovetro Murano, estima que 60% do vidro vendido em Veneza hoje não é fabricado no local.

Franco Zuffo, que é dono de uma pequena loja de vidro perto da Piazza San Marco, colocou uma placa advertindo contra importações chinesas de baixa qualidade.

"Estou em guerra com as lojas que vendem produtos chineses há quatro anos. Mas nós não somos unidos, esse é o problema", disse.

Até os artistas de rua oferecem pinturas chinesas. A legislação local determina que os artistas de rua venezianos devem vender apenas seu próprio trabalho. Muitos ignoram as regras.

Como os turistas são enganados? "Imagine um casal que sonhou em visitar Veneza a vida inteira", disse Saverio de Bello, um artista de rua. "Eles vêm em seu aniversário de casamento e ficam encantados. É fácil alguém se aproximar deles e dizer 'eu sou um grande artista'. É como atirar em peixes em um barril."

Ele trabalha na beira do canal perto da Piazza San Marco há décadas. "Veneza está perdendo sua identidade", disse De Bello. "Costumava ser formada por pequenas lojas de artesãos. Hoje tudo está ficando igual."

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