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Inteligência - Nikos Konstandaras

A Grécia pode escrever sua boa notícia

Atenas

Há quase três anos, nós gregos não temos um só dia de boas notícias. Desde outubro de 2009, quando um governo recém-eleito revelou a extensão de nosso deficit e nossa dívida, nossas vidas mudaram drasticamente. No entanto, nossos sacrifícios parecem inúteis. É como se estivéssemos em areia movediça, onde cada movimento nos puxa mais para o fundo da lama, e ao nosso redor estão os parceiros da União Europeia, também nossos credores. Eles gritam instruções mas não oferecem ajuda suficiente para nos salvar, enquanto a crise da dívida na Europa ameaça também sugá-los para baixo.

Quase todo grego teve sua renda cortada em cerca de 20%, enquanto os impostos aumentaram. Um em cada quatro empregados do setor privado está desempregado. Muitos outros não recebem há meses. Mas os preços continuam altos e até empresas saudáveis são incapazes de tomar empréstimos. Muitas fecharam. O número de pessoas nas margens continua crescendo, enquanto atrasam os pagamentos de empréstimos e aluguéis. Imigrantes da África e da Ásia estão desistindo e indo embora.

As eleições nacionais em maio e junho deixaram de produzir um governo forte o suficiente para efetuar as reformas. Vivemos sob a ameaça de ser obrigados a sair do euro, enquanto nossos parceiros na UE e no Fundo Monetário Internacional declaram que não estamos fazendo o suficiente para obter a próxima parcela de nosso empréstimo. Todo mundo está no limite.

Os motivos pelos quais o resgate não está funcionado são que a austeridade exigida pela UE e o FMI foram uma receita para recessão e colapso ou os gregos não cumpriram suas promessas de tornar sua economia mais produtiva. Ambos os argumentos estão certos, até certo ponto. Desde que o primeiro dos dois acordos de resgate foi assinado, em maio de 2010, os gastos do consumidor evaporaram e o crédito desapareceu, sufocando o comércio e reduzindo a captação de impostos. Mas os políticos gregos fizeram muito pouco no sentido de reformas estruturais, como abrir profissões fechadas e vender companhias estatais, propriedades e licenças para o jogo, rádio e TV, etc. A inação do governo agravou o sofrimento. Não se gerou riqueza e os estrangeiros avaliam que os gregos fogem de suas responsabilidades.

Enquanto isso, a Grécia está em seu quinto ano de recessão, com seu Produto Interno Bruto em queda de quase 20% de 2009 para 2012. O acordo de resgate aumentou o peso da dívida grega, de quase € 300 bilhões em 2009 para estimados € 327 bilhões neste ano. Isso depois que a maior reestruturação da dívida da história foi implementa em março.

Nosso problema econômico sempre foi político. Na Grécia, quase todo partido político baseia seu apoio em grupos como sindicatos, funcionários públicos, banqueiros "amigos" e donos da mídia, por isso vários governos impuseram a austeridade à maioria, em vez de destruir sua base de clientes. Quando os partidos recorrem a interesses especiais, esses eleitores mudam seu apoio -como vimos neste ano com a ascensão das forças populistas. Esse padrão levanta dúvidas sobre se a Grécia tem a vontade para tornar viáveis sua economia e sua sociedade. A desconfiança de nossos credores e as exigências de reformas reforçam as suspeitas gregas de se eles realmente querem nos ajudar a nos salvar. O cinismo dos eleitores e a fragmentação política minam mais qualquer apoio à mudança real.

Mas até um ciclo vicioso tem de terminar. Na Grécia, o fim do financiamento encerrará o jogo de nervos com os credores. O que pode salvar a Grécia é a constante exigência de reformas por nossos parceiros, em troca da garantia de que a Grécia manterá o euro. A Grécia será salva se os países da zona do euro encontrarem uma maneira de salvar a si próprios. O primeiro passo seria uma declaração inequívoca da UE e do FMI de que as dívidas de membros soberanos serão pagas e que ninguém poderá falir. Esse será o maior passo rumo à recuperação da área da moeda comum.

A Grécia precisa não apenas pressionar seus trabalhadores, enquanto pede mais tempo e dinheiro a seus parceiros, também precisa acabar com os grupos de interesse e liberar a economia, precisa fazer o setor público servir aos cidadãos e explorar os talentos de sua população e os ativos de um dos países mais culturalmente ricos da Terra.

Para romper o ciclo de más notícias, os gregos precisam tomar a iniciativa. E agir com a determinação e inovação que demonstraram no passado -para que se crie um Estado justo, capaz de manter seu lugar no mundo.

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