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Crianças que não falam ganham voz própria

Por EMILY B. HAGER

Enrique Mendes, 9, vasculhou um baú de brinquedos em sua casa em Nova Jersey. "Eu quero brincar com os homens que lutam", disse ele, em uma voz que não era bem a sua, mas quase.

Enrique tem síndrome de Down e apraxia da fala, o que significa que ele não pode falar, a não ser emitir alguns ruídos. Ele conseguiu falar com um iPad com a última versão de um aplicativo de texto-para-voz ("text-to-speech", em inglês), o Proloquo2Go. "Agora a voz combina com o menino", disse o pai de Enrique, John Mendez.

Até recentemente, os dispositivos que ajudavam as crianças a falar usavam vozes de adultos modificadas. O efeito pode ser surpreendente, porque não parece a voz de uma criança. A maioria das vozes de crianças existentes soam "como adultos que cheiraram gás hélio", diz David Niemeijer, presidente e principal desenvolvedor da AssistiveWare, que criou o software testado por Enrique.

A AssistiveWare, e sua sócia, Acapela Group, desenvolveram a próxima versão, Proloquo2Go 2.1, que apresenta vozes gravadas por crianças. O aplicativo de US$ 190 pode ser comprado no site iTunes, mas as pessoas que já têm o programa podem acrescentar as últimas vozes sem pagar mais.

Poucas empresas -ou nenhuma- oferecem verdadeiras vozes de crianças, por causa dos desafios de gravá-las. Uma criança de 10 anos não consegue passar centenas de horas em uma cabine de som gravando a biblioteca de frases necessárias.

A engenharia de som pode manipular vozes de adultos, acrescentando filtros que se adaptam ao tom mais agudo da voz de uma criança, por exemplo.

Computadores com processadores mais rápidos permitiram que os engenheiros de som fizessem as vozes artificiais soarem mais humanas. As maiores companhias de voz, como a Ivona, da Polônia, hoje oferecem vozes em diversas línguas e sotaques.

O Proloquo2Go, que funciona em equipamentos móveis da Apple, é usado por dezenas de milhares de crianças com deficiências como autismo e paralisia cerebral. A empresa estima que 80% de seus usuários tenham menos de 18 anos e 60%, menos de 11 anos. As novas vozes são para crianças de seis anos a 14 anos.

O desenvolvimento do software custou US$ 100 mil para a AssistiveWare. Durante as sessões de gravação do Proloquo2Go 2.1, os engenheiros de áudio coletaram milhares de frases e centenas de palavras. A partir desse banco de palavras, o aplicativo pode sintetizar qualquer palavra.

"Muitas vezes você não consegue fazer comentários irônicos ou sarcásticos", escreveu Martin Pistorius, um desenvolvedor da web de 36 anos. Ele perdeu a voz após contrair meningite quando tinha 12 anos e usa a tecnologia de texto-para-voz há dez anos.

"Quando você acaba de escrever a frase, o momento passou e não seria mais engraçada ou adequada. Eu sou bastante rápido para transmitir minha mensagem, mas mesmo assim não consigo acompanhar o ritmo de uma conversa normal", escreveu ele.

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