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Reinventando o suvenir como um objeto artesanal

Por JULIE LASKY

Com o jubileu de diamante do reinado de Elizabeth 2a e os Jogos Olímpicos, este está sendo um ano excepcional para quem coleciona objetos britânicos. Por mais ou menos US$ 16 você compra um molde de gelatina com o formato da cabeça da rainha.

Por uns US$ 2.440, é possível mobiliar seu quarto com um colchão feito à mão, coberto com um desenho da bandeira britânica.

E há também os badulaques feitos em série, responsáveis pela quase totalidade do US$ 1,5 bilhão movimentado pelos suvenires olímpicos -de bandeirolas a bonecos do mascote olímpico britânico Wenlock.

Alguns dos objetos mais notáveis deste verão boreal foram, aliás, suvenires baratos.

São objetos encomendados pela organização artística Create, que pediu a cinco designers para proporem alternativas às lembranças vagabundas do exterior.

Os objetos da Create são significativos porque funcionam como suvenir, no sentido de capturarem uma época e lugar. Mas não são coisas como canecas ou camisetas que guardamos como lembranças de ocasiões históricas.

Em vez disso, eles nos obrigam a considerar o que significa celebrar, ou se as representações que escolhemos realmente merecem a poeira que acumulam na prateleira.

As peças incluem uma casa de porcelana de Barnaby Barford inspirada no pub Blind Beggar, no bairro londrino de Tower Hamlets.

Um cabeço de amarração em miniatura, de ferro, por André Klauser; e os broches esmaltados de Ed Carpenter, mostrando gírias londrinas. São objetos alusivos ao East London, onde fica o Parque Olímpico, e criados por designers que vivem ou trabalham na área.

O disco de vinil de Dominic Wilcox preserva os sons dos trabalhadores de 21 atividades do East London, da defumação do salmão à fabricação de óculos. E a Olimpíada é o tema da série de "livros de exercícios" de Donna Wilson, com um mapa mostrando parques para a prática esportiva no East London.

Suvenires são colecionados pelo menos desde a época em que peregrinos medievais começaram a trazer pequenos objetos de terras sagradas. Uma recente exposição no Metropolitan Museum of Art, de Nova York, incluía discos de terracota semelhantes a moedas, dos séculos 6 ou 7, possivelmente da Síria, recolhidos por peregrinos como lembrança de encontros com homens santos.

Hoje, a maioria dos suvenires são objetos baratos, produzidos em massa na Ásia. Segundo o "Daily Mail", de Londres, apenas 9% dos 194 suvenires oferecidos no site da Olimpíada em fevereiro haviam sido fabricados no Reino Unido; 62% eram "made in China".

Mas os suvenires também podem ser itens duráveis e de qualidade, como o jogo de chá Royal Crown Derby Diamond, que custa em torno de US$ 930.

E há também os suvenires do orgulho, como bandeiras nacionais, ou irreverentes, como o molde de gelatina da britânica Lydia Leith, reproduzindo o rosto da rainha.

Os objetos da Create ocupam uma categoria completamente diferente. Dá para chamá-los de preciosos: são artesanais, sutis e produzidos localmente em pequenas levas.

Mas têm ideias e formas robustas, e preços razoáveis -US$ 16 pelo livro de exercícios, ou US$ 23 pelos broches com as gírias do dialeto "cockney". Os produtos estão todos à venda pelo site theo-theo.com.

Thorsten van Elten, que supervisionou a concepção e produção das peças do Create, disse que "precisavam ser suvenires viáveis".

Eles também deveriam se destinar a um público amplo, razão para o seu preço acessível.

Mas, embora baratos, os objetos são feitos para durar. Eles expressam um desejo de preservar marcas culturais ameaçadas de extinção, como o sotaque "cockney" e o barulho das máquinas de escrever.

O designer Constantin Boym, conhecido por seus trabalhos provocativos sobre suvenires, usa o termo "meta-suvenir" para descrever objetos como os da Create, que provocam questionamentos sobre o próprio ato de recordar.

A série Edifícios do Desastre, iniciada em 1997 por Boym e sua mulher, Laurene, são um exemplo clássico, com maquetes de níquel de lugares deformados de alguma maneira horrível -como o ginásio Superdome, de Nova Orleans, danificado em 2005 pelo furacão Katrina.

Como a série da Create mostrou, meta-suvenires raramente reverenciam os monumentos habituais.

Uma cartela de fósforos de Tobias Wong, de 2002, também tem características de um meta-suvenir -é mordaz, inteligente e filosoficamente perturbadora. Nela, todos os fósforos foram retirados, exceto dois palitos com ponta de enxofre: uma réplica do World Trade Center, pronta para ser queimada.

"Ela não fica simplesmente na sua prateleira como um memorial", disse Todd Falkowsky, curador de uma exposição da obra de Wong que estreia em setembro no Museu de Vancouver.

"Ela está provocando você a fazer ou não alguma coisa", acrescentou ele.

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