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Tecnologias renovam aposta na robótica

Por JOHN MARKOFF

A Foxconn não informou quantos operários serão dispensados. Mas seu presidente, Terry Gou, endossa o uso crescente de robôs. De acordo com a agência oficial de notícias, Xinhua, em janeiro Gou declarou, falando de seus mais de 1 milhão de empregados: "Como os seres humanos também são animais, gerir 1 milhão de animais me dá dor de cabeça".

Os custos decrescentes e a sofisticação crescente dos robôs reativaram uma discussão em torno da velocidade em que empregos serão perdidos. Neste ano os economistas Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, apresentaram argumentos em favor de uma transformação rápida. "A usurpação das habilidades humanas pelos robôs nesse ritmo e escala é recente e possui implicações econômicas profundas", escreveram eles em seu livro "Race Against the Machine" ("Corrida Contra a Máquina").

Para eles, a chegada da automação de baixo custo anuncia transformações da mesma escala da revolução na tecnologia agrícola ocorrida no século passado, quando o emprego na agricultura nos EUA caiu de 40% da força de trabalho para 2%.

Mas Bran Ferren, veterano especialista em robótica e designer de produtos industriais na Applied Minds, de Glendale, Califórnia, argumenta que ainda há obstáculos grandes "Inicialmente, eu tinha a ingenuidade de pensar em robôs universais que fossem capazes de fazer tudo", contou. "Mas é preciso ter pessoas por perto, de qualquer maneira. E as pessoas são boas em entender como mexer com aquele radiador ou acoplar aquela mangueira. Coisas como essas ainda são difíceis para robôs."

Mais além dos desafios técnicos, há a resistência de operários sindicalizados e comunidades preocupadas com a perda de empregos. Embora o aumento dos custos da mão de obra e dos transportes na Ásia e o medo do roubo de propriedade intelectual estejam trazendo alguns trabalhos de volta para o Ocidente, a ascensão dos robôs pode significar que serão gerados menos empregos.

Na fábrica de painéis solares Flextronic, em Milpitas, ao sul de San Francisco, uma faixa proclama "Trazendo Empregos e Manufatura de Volta à Califórnia!". Dentro da fábrica, contudo, vêem-se robôs por toda parte e poucos trabalhadores humanos. Todo o levantamento de cargas pesadas e quase todo o trabalho de precisão é feito por robôs. Os trabalhadores humanos cortam material em excesso, passam fios por furos e aparafusam alguns prendedores.

Esse tipo de avanço no setor manufatureiro também está provocando transformações em outros setores que empregam milhões de trabalhadores. Um desses setores é o da distribuição, em que robôs que se movimentam na velocidade dos corredores mais velozes do mundo são capazes de armazenar, pegar e embalar mercadorias para transporte, com muito mais eficiência que os humanos.

Os avanços rápidos nas tecnologias de visão e tato estão colocando uma grande gama de tarefas manuais ao alcance das habilidades dos robôs. Por exemplo, os jatos comerciais da Boeing agora são rebitados automaticamente por máquinas gigantes que se movimentam com rapidez e precisão sobre a superfície dos aviões.

Na Earthbound Farms, na Califórnia, quatro braços robóticos recém-instalados, com copos de sucção customizados, empacotam embalagens de alface orgânica em caixas para transporte. Cada robô faz o trabalho de até cinco trabalhadores humanos.

Corrida de robôs

Numa feira comercial de automação em Chicago, no ano passado, Ron Potter, diretor de tecnologia de robótica na consultoria Factory Automation Systems, de Atlanta, ofereceu um exemplo de um sistema manufatureiro robótico que custou inicialmente US$ 250 mil e tomou o lugar de dois operadores de máquinas, cada um dos quais ganhava US$ 50 mil por ano. Ao longo dos 15 anos de vida do sistema, as máquinas possibilitaram economia de US$ 3,5 milhões em mão de obra e produtividade.

O governo e executivos industriais nos EUA argumentam que, mesmo que as fábricas sejam automatizadas, ainda são uma fonte importante de empregos. Se os EUA não competir pela manufatura avançada em setores como o da eletrônica para consumidores, poderá perder também nas áreas de engenharia e design. Além disso, embora sejam perdidos mais empregos de colarinho azul, a manufatura mais eficiente vai gerar empregos qualificados no design, na operação e na manutenção das linhas de montagem.

E os fabricantes de robôs dizem que seu próprio setor gera empregos. Um relatório encomendado no ano passado pela Federação Internacional de Robótica constatou que os produtores de robótica em todo o mundo já empregavam 150 mil pessoas em todo o mundo.

Mas o domínio americano e europeu na próxima geração da indústria é incerto. "O que eu vejo é que os chineses também vão usar robôs", disse Frans van Houten, presidente da Philips. "A janela de oportunidade para trazer a manufatura de volta para nós é antes de isso acontecer."

Linha de montagem veloz

Na Tesla Motors, em Fremont, na Califórnia, até oito robôs fazem um balé em torno de cada veículo quando ele para por apenas cinco minutos em cada estação ao longo da linha de produção. Os braços robóticos parecem humanos quando se estendem e trocam de "mão" para realizar uma tarefa diferente. Muitos robôs em fábricas de automóveis realizam apenas uma função, mas os robôs da Tesla dão conta de até quatro: soldar, rebitar, colar e instalar um componente. O objetivo é que até 83 sedãs de luxo elétricos Tesla S sejam produzidos por dia na fábrica. Quando a empresa começar a produzir um utilitário esportivo, no próximo ano, os robôs serão reprogramados e o veículo novo será produzido na mesma linha de montagem.

A fábrica da Tesla é pequena, mas representa uma aposta nos robôs flexíveis, algo que pode ser um modelo para o setor.

Recentemente, a Hyundai e a Beijing Motors abriram uma fábrica nos arredores de Pequim que poderá produzir 1 milhão de veículos por ano, usando mais robôs e menos pessoas que as fábricas grandes de seus concorrentes, e com a mesma flexibilidade que a da Tesla, disse Paul Chau, investidor americano da WI Harper.

Novo papel dos humanos

Nos dez anos passados desde que começou a trabalhar num depósito em Tolleson, Arizona, Josh Graves já viu como os sistemas de automação podem facilitar o trabalho, mas também criar estresse e inseguranças novos. O depósito no qual ele trabalha distribui produtos alimentícios a granel para a rede de supermercados Kroger.

Graves, 29, começou a trabalhar no depósito assim que terminou o ensino médio. O emprego exigia o levantar caixas pesadas, e ele trabalhava muitas horas por dia.

Hoje, Graves dirige uma máquina pequena semelhante a uma empilhadeira. Ele usa fones de ouvido; uma voz computadorizada lhe diz onde no depósito deve ir para buscar ou armazenar produtos. Um computador centralizado, apelidado pelos operários de Cérebro, dita a velocidade das empilhadeiras. Os gerentes sabem exatamente o que os operários estão fazendo em cada minuto.

Segundo Rome Aloise, vice-presidente para a Califórnia do sindicato de trabalhadores do setor, como os operários fazem menos trabalho físico, ocorrem menos lesões. Pelo fato de o ritmo de trabalho ser ditado por um computador, o estresse hoje é mais psicológico.

Vários anos atrás, o depósito de Graves instalou um sistema alemão que automaticamente armazena caixas de alimentos e os tira de prateleiras. O sistema levou à eliminação de 106 empregos, ou 20% da força de trabalho.

Agora, a Kroger pretende construir um depósito altamente automatizado em Tolleson.

"Não temos um problema com a chegada das máquinas", Graves disse a funcionários da prefeitura. "Mas diga à Kroger que não queremos perder esses empregos em nossa cidade."

Certos tipos de trabalho ainda estão fora do alcance da automação: empregos na construção, que requerem que trabalhadores se movimentem em locais imprevisíveis e realizem tarefas não repetitivas; montagens que exigem feedback tátil, como a colocação de painéis de fibra de vidro no interior de aeronaves, barcos ou carros e tarefas de montagem em que é feita uma quantidade limitada de produtos, o que exigiria a reprogramação dos robôs, algo que custa caro. Mas essa lista de trabalhos está encolhendo.

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Um vídeo sobre as novidades na robótica: nytimes.com.
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