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Ricos da França tentam fugir dos altos impostos

POR LIZ ALDERMAN

PARIS - O telefonema para a empresa de advocacia de Vincent Grandil em Paris começou como muitos outros recentemente. Era o bem pago executivo de uma das mais rentáveis empresas da França, que se sentia nervoso. O presidente François Hollande está prometendo aplicar um imposto de 75% sobre a qualquer pessoa que tenha renda superior a ¤ 1 milhão por ano. "Devo me preparar para deixar o país?", o executivo perguntou a Grandil.

O conselho do advogado: espere para ver. Pelo menos por enquanto. "Até pessoas jovens e dinâmicas que faturam € 200 mil estão se perguntando se devem ficar em um país onde ganhar dinheiro não é considerado uma coisa boa", disse Grandil, da Altexis, empresa especializada em questões fiscais.

A proposta de imposto de 75%, que o Parlamento pretende examinar em setembro, destina-se a reforçar as finanças da França enquanto a crise na Europa se intensifica. Mas como há relativamente poucas pessoas no país cuja renda estaria sujeita a esse imposto -cerca de 7.000 a 30 mil pessoas em uma população de 65 milhões-, os ganhos poderiam contribuir apenas com uma pequena fração dos € 33 bilhões em novas receitas que o governo quer levantar no ano que vem para equilibrar o Orçamento.

O Ministério das Finanças da França não respondeu aos pedidos de uma estimativa da receita que o imposto poderia captar. Embora a quantia fosse baixa, alguns analistas notam que um golpe fiscal contra os ricos daria cobertura política para os cortes dolorosos que Hollande poderá ter de fazer no ano que vem em programas sociais.

O imposto poderá ter um enorme valor simbólico como um golpe para a igualdade, dado por um novo presidente que disse: "Eu não gosto dos ricos". Hollande é o primeiro presidente socialista no país desde François Mitterrand, na década de 1980.

Muitas empresas estão estudando planos de contingência para mudar ou remover os executivos com altos salários, segundo consultorias, advogados, contadores e agentes imobiliários. Eles dizem que alguns ricos já fizeram as malas para partir para lugares como Reino Unido, Bélgica, Suíça e Estados Unidos.

Eles também sabem de empresas que estão retardando os planos de investir na França ou transferir para cá funcionários ou novos contratados.

Alguns ricos partiram depois que Mitterrand aumentou os impostos na década de 1980. Mais recentemente, a ex-modelo da Victoria Secret Laetitia Casta e o cantor Johnny Halliday causaram rebuliço ao se mudarem para escapar do fisco.

Hollande prometeu reduzir o deficit orçamentário da França, atualmente 4,5% do Produto Interno Bruto, para 3% no ano que vem, para cumprir as regras da zona do euro. Qual a melhor forma de atingir essa meta, porém, é uma questão política tanto quanto fiscal. Hollande foi eleito em maio em uma onda de ressentimento contra "les riches" -executivos de empresas, banqueiros, astros do esporte e celebridades cujos pagamentos tendem a ser considerados escandalosos em um país onde a crescente divisão entre ricos e pobres toca um nervo oculto cujas raízes são anteriores a Robespierre.

A metade das famílias do país ganha menos de € 19 mil por ano. Somente 10% ganham mais de € 60 mil por ano, segundo a agência de estatísticas francesas Insee.

Atualmente, não há um plano para mudar as alíquotas para a maioria das pessoas, que são de 14% para os mais pobres e 30% para a faixa seguinte. Um contador em Paris que tem muitos clientes ricos, Steve Horton, calculou que uma família de um casal e dois filhos com receita anual de pouco mais de € 2,22 milhões hoje tem uma renda líquida de cerca de € 1,1 milhão pelo atual sistema fiscal francês.

Essa família ficaria com € 770 mil se o imposto de Hollande entrar em vigor, diz Horton.

"As pessoas têm um valor que estão dispostas a pagar", disse ele, "e quando vai além disso elas se mudam para algum lugar onde ele seja mais razoável".

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