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Perto da costa, as baleias jubarte estão em perigo

POR KELLY SLIVKA

O rastreamento alterou as rotas marítimas e a pesca

WOODS HOLE, Massachusetts - Por décadas, as baleias jubarte foram mal compreendidas devido à dificuldade de acompanhá-las enquanto nadam. O progresso veio com as etiquetas eletrônicas, ou DTAGS, criadas em 1999 no Instituto Oceanográfico Woods Hole, em Massachusetts.

Diferentemente das etiquetas via satélite, que transmitem a localização, geralmente durante um longo período de tempo, as DTAGS ficam presas às costas da baleia durante 36 horas no máximo e registram informação como velocidade, profundidade e áudio. Elas também medem a orientação longitudinal e lateral da baleia.

Dave Wiley, diretor de pesquisa no Santuário Marinho Nacional Stellwagen Bank em Massachusetts, e alguns colegas etiquetaram com sucesso as baleias 90 vezes, em alguns casos os mesmos indivíduos ao longo de vários anos. Os dados das etiquetas são comparados com estudos acústico da biomassa de presas e, nos últimos dois verões, imagens das câmaras da National Geographic, que produzem vídeos mostrando como as baleias usam diferentes partes do corpo enquanto se alimentam e coordenam seus movimentos ao se deslocar em grupos.

Para Wiley, a constatação mais marcante é que cada baleia tem seu próprio conjunto de comportamentos. "Temos exemplos de centenas de episódios de alimentação que são quase idênticos naquela determinada baleia, mas são diferentes das centenas de episódios de outra baleia", disse ele.

Em consequência, os trabalhos de Wiley sobre as baleias jubarte são cheios de detalhes problemáticos. "É frustrante, complexo e fascinante ao mesmo tempo", disse.

Os dados revolucionaram a pesquisa e a conservação da baleia jubarte, mostrando aos cientistas onde as baleias passam o tempo, o que elas fazem em diferentes profundidades, como se movimentam e quanto vocalizam.

As etiquetas convencionais de satélite, embora utilizadas por períodos mais longos, "só nos dão a posição quando o animal vem à superfície", disse o ecologista marinho Ari Friedlaender. "A DTAG mede a orientação da baleia 50 vezes por segundo, além do áudio -tudo o que o animal escuta e todo som que ele faz."

A etiqueta é programada para se desprender depois de um tempo predeterminado, embora algumas sejam empurradas e se soltem mais cedo. Aí elas flutuam para a superfície, onde os pesquisadores as recolhem.

Os cientistas têm analisado as baleias jubarte da Nova Inglaterra desde o fim dos anos 1970, quando perceberam que cada uma delas tinha um padrão único de pigmentação na parte inferior da cauda, disse Peter Stevick, um ecologista do Colégio do Atlântico em Bar Harbor, Maine (EUA), que mantém o Catálogo de Baleias Jubarte do Atlântico Norte.

O santuário de Stellwagen é o habitat ideal para os cardumes de um peixe do tamanho de um lápis chamado amodita que atrai uma série de predadores -baleias, golfinhos, badejos e atuns. Mas a proximidade do santuário da terra -40 quilômetros de Boston- também significa que ele é muito usado por seres humanos.

Em 2007, as rotas de navegação entre Boston e Nova York, que cruzam o santuário de Stellwagen, foram alteradas para evitar as áreas cheias de baleias, em parte porque os dados de DTAG de Wiley mostraram que as baleias jubarte passam 60% do tempo a 15 metros da superfície, a pequena distância dos cascos dos barcos. A maioria das mortes de jubartes causadas por humanos ocorre quando as baleias são atingidas por navios ou são presas em redes de pesca, diz Wiley. Ele e seus colegas esperam usar suas descobertas para pedir mais mudanças nas regras de pesca e navegação.

Em 2009, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera começou a exigir que os pesqueiros usem cordas que afundam, em vez das tradicionais flutuantes, para conectar armadilhas para lagostas e caranguejos. As cordas flutuantes fazem um arco sobre o piso marinho, representando um risco para as baleias que mergulham profundamente, mas ninguém percebeu isso até que os dados do DTAG mostraram que as baleias mergulham direto para o fundo.

Agora os pesquisadores tentam descobrir quanto tempo as baleias passam a 4 metros do fundo, onde são montados os painéis verticais das chamadas redes de arrasto.

No santuário, as pessoas são proibidas de despejar materiais nocivos e de qualquer atividade que possa alterar o piso marinho. Mas não há regulamentações de pesca ou navegação.

Wiley sugere que limites da velocidade e distância de abordagem dos barcos de observação de baleias manteriam os animais mais seguros. As pessoas perguntam por que ele não vai estudar as baleias em águas mais calmas. Para ele a resposta é óbvia.

"Você pode ir a qualquer lugar estudar animais e descobrir o que eles fazem", disse Wiley. "Mas, se quiser lhes dar algo em troca, precisa trabalhar nos lugares onde eles correm perigo, e as baleias estão em risco aqui."

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