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Mapeando caminhos para a Presidência

Obama quer ser melhor, sempre

JAE C. HONG/ASSOCIATED PRESS
Uma avaliação desapaixonada de suas falhas em 2008 levou Mitt Romney a se candidatar à Presidência outra vez. Seu adversário, Barack Obama, dá notas a si mesmo e se sente mal quando fracassa, mesmo numa partida de bilhar
Uma avaliação desapaixonada de suas falhas em 2008 levou Mitt Romney a se candidatar à Presidência outra vez. Seu adversário, Barack Obama, dá notas a si mesmo e se sente mal quando fracassa, mesmo numa partida de bilhar

Por JODI KANTOR

Com o dia da eleição se aproximando, o presidente Obama começa a revelar alguns fatos importantes a seu próprio respeito. A uma plateia no Iowa, disse que tem afinação musical impressionante. Informou a um entrevistador que é "um jogador de bilhar surpreendentemente bom" -sem falar (embora ele fale) em sua habilidade incomum como rabiscador de desenhos.

Barack Obama é um perfeccionista dotado de espírito altamente competitivo. Assessores e amigos dele o dizem em entrevistas, mas as palavras de elogio ou de ironia do próprio Obama o dizem ainda melhor: ele é alguém que se esforça eternamente para aprimorar seu desempenho e, com frequência, se avalia e avalia outros em termos que lembram os de um boletim escolar, como "excelente" ou "precisa de aula de reforço" (por exemplo, os republicanos precisam).

Agora, enquanto enfrenta o candidato republicano Mitt Romney, a vontade de vencer de Obama está exacerbada. Ele está estudando intensivamente para os debates em que enfrentará um adversário que já qualificou como "ineficaz", está levantando fundos em ritmo frenético para diminuir a diferença com Romney e está aderindo à tática do tipo "faça o que for preciso" de uma campanha cada vez mais intensamente disputada.

A obsessão de Obama com o virtuosismo e com provar que é o melhor são notáveis, dizem pessoas próximas a ele (para seus críticos, é arrogância). Para seus amigos, é uma parte crucial da visão de mundo de alguém que passou sua infância como outsider e, já adulto, desafiou a visão de outros quanto às suas limitações. Quando Obama discursa para estudantes, costuma enfatizar a importância de realizarem todo seu potencial.

"Sua filosofia geral reza que, não importa o que ele faça, sempre o fará da melhor maneira que puder", disse um amigo íntimo de Obama, Marty Nesbitt.

Quando, numa disputa política anterior, Obama foi tachado de perfeccionista irritante, alguns de seus amigos ficaram enfurecidos. Para eles, Obama estava mudando as ideias preconcebidas negativas sobre o que um homem negro é capaz de realizar.

Mas mesmo as pessoas leais a Obama dizem que sua busca pela excelência pode resvalar na acusação de que ele tende a superestimar suas capacidades.

Para alguém que lida com os problemas mais sérios do mundo, Obama passa tempo surpreendente aperfeiçoando-se em habilidades de monta menor. Ele já jogou golfe 104 vezes como presidente, diz Mark Knoller, da CBS News, e pede dicas a jogadores melhores para se aprimorar.

Sua ideia de lazer descontraído em seu aniversário é competir com amigos num torneio atlético em estilo olímpico. A versão de 2009 terminou com uma partida de boliche. Adivinhe quem ganhou, a despeito de seu histórico de resultados ruins? O presidente vinha treinando na pista de boliche da Casa Branca, como as pessoas ficaram sabendo.

Matthew Dowd disse que admira Obama, mas acrescentou: "Ninguém gosta de estar na sala com uma pessoa que se acha a mais inteligente naquele lugar".

Mesmo alguns democratas já se irritaram com as dicas que o presidente dá desde como dar um aperto de mãos (olhando o eleitor no olho) até como escrever bem ("pense três ou quatro sentenças à frente", aconselhou ele).

Enquanto Obama se atribuiu notas altas por sua performance na Casa Branca, muitos eleitores não concordam, citando o modo como ele vem tratando da economia, sua promessa não cumprida de unir Washington e sua declaração de que promoveria a paz entre Israel e os palestinos.

Obama também tem o hábito de avisar pessoas que acaba de contratar que poderia fazer seus trabalhos melhor do que eles.

"Acho que sou melhor redator de discursos que os meus redatores de discursos", Obama disse a Patrick Gaspard, seu diretor político, no início da campanha de 2008, segundo a "New Yorker".

Embora ele não tivesse comandado nenhuma organização grande antes de se tornar presidente, Obama fez pouco caso das preocupações internas e acabou com uma Casa Branca dividida.

Agora Obama está prestes a receber da população americana a avaliação de seu desempenho. Segundo seus assessores, é um momento pelo qual ele anseia. Em alguns dos momentos mais sombrios de seu governo, ele disse que quer que o país o avalie não isoladamente, mas em contraste com a alternativa republicana. Os ataques intransigentes da direita o endureceram e motivaram, dizem assessores, levando-o a querer provar que "estamos com a razão e somos melhores", nas palavras de um aliado.

Ainda em 2008, a avaliação feita por Obama de Mitt Romney foi contundente. No dia em que Romney desistiu da corrida presidencial naquele ano, Obama disse a jornalistas que o ex-governador era um candidato fraco que dava declarações "mal pensadas".

Em fevereiro, durante um encontro com governadores democratas, Brian Schweitzer, de Montana, perguntou a Obama se ele possuía as qualidades necessárias para vencer em 2012. Por um instante, Obama pareceu irritado, contou um assessor da Casa Branca. Então, ele se iluminou, "e como", falou Schweitzer.

Obama vem trabalhando em ritmo furioso. Segundo Mark Knoller, já esteve à frente de três vezes mais eventos de arrecadação de fundos do que esteve George W. Bush em sua campanha de reeleição em 2004.

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