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Um ator reavalia sua carreira

Por PATRICK HEALY

Jake Gyllenhaal fez um trato consigo mesmo dez anos atrás: para cada três filmes em que trabalhasse, atuaria numa peça.

Ele não honrou o trato.

Naquela época, ele tinha 21 anos e estava animado com sua estreia teatral londrina em "This Is Our Youth", de Kenneth Lonergan, representando o tipo de personagem tristonho e sensível que o converteu em queridinho do cinema indie em filmes como "Donnie Darko" e "Lovely & Amazing". Mas ter tempo para atuar em peças não faz parte da trajetória normal em Hollywood para atores jovens que ainda precisam provar sua força nas bilheterias. Assim, Gyllenhaal fez testes para "Homem Aranha" e "Batman", além de outros papéis que pudessem convertê-lo em herói de ação ou protagonista.

O que aconteceu? O filme "O Dia Depois de Amanhã", repudiado pela crítica. O ironizado "Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo". Também houve filmes aclamados, como "O Segredo de Brokeback Mountain" e "Zodíaco". Mas Gyllenhaal estava preocupado.

"Eu não estava me ouvindo sobre o tipo de trabalhos que queria fazer. Precisava entender que tipo de ator quero ser e sentir confiança para ir atrás do que eu quero."

Ele agora chegou a algumas conclusões e elas ficaram evidentes em julho, numa leitura para sua primeira aparição num teatro de Nova York, em "If There Is I Haven't Found It Yet", uma comédia de humor negro sobre uma adolescente britânica acima do peso e sua família problemática. O próprio projeto já revela muito: em vez de de ser um drama famoso da Broadway, o tipo de produção em que astros de Hollywood preferem ser vistos hoje em dia, a peça, que já começou a ser apresentada pela Roundabout Theater Company, é um trabalho Off Broadway escrito para um elenco grande, sem protagonistas importantes, por um autor pouco conhecido.

Jake Gyllenhaal estudou por dois anos na Universidade Columbia, em Nova York, mas abandonou os estudos para se tornar ator, e alguns diretores -como Ang Lee, de "Brokeback Mountain"- o descrevem como um ator de estilo livre, e não metódico.

Gyllenhaal, que foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por "Brokeback Mountain", contou que ainda faz experimentos com sua visão dos personagens, mudando de cena para cena. Mas sua meta é o rigor na atuação.

"No início da carreira, é difícil saber tudo, e fazer perguntas nem sempre é bem-vindo em Hollywood, onde todo o mundoparece saber o que está fazendo", disse. "Quando cheguei aos 30 anos, me perguntei se estava respeitando a atuação como ofício."

Recentemente, Gyllenhaal encerrou sua participação em outro filme ainda inédito, "An Enemy", no papel de professor de história. Para esse papel, ele trocou e-mails frequentes com um de seus antigos professores em Columbia sobre a arte de dar aulas em sala de aula. Ele passou cinco meses observando policiais de Los Angeles e treinando com eles para seu novo filme, "End of Watch", que deve estrear em setembro e no qual ele faz um policial hábil e cheio de bossa na região South Central de Los Angeles.

O engajamento de Gyllenhaal com "End of Watch" foi tão completo que John Lesher, um dos produtores do filme, decidiu fazer dele um dos produtores executivos.

Tendo crescido em Los Angeles, fazendo viagens a Nova York para visitar parentes, Gyllenhaal já frequentava o teatro muito antes de pisar num palco pela primeira vez. Quando garoto, ficou maravilhado ao ver Patti LuPone em "I Get a Kick Out of You", a canção que abriu "Anything Goes".

"Gostei de trabalhar no teatro em Londres porque há uma apreciação real do potencial", contou. "Ninguém chega ao palco 100% perfeito. Sinto-me à vontade sobre o palco porque sei que, quando assumimos riscos, isso é apreciado."

O que ele espera de seu trabalho em "If There Is I Haven't Found It Yet" é intensidade. "Quero sentir que dei tudo de mim atuando e me sentir realizado."

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