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Chuvas erráticas ameaçam agricultura na Índia

Por VIKAS BAJAJ

MURUMA, Índia - A seca devastou colheitas em todo o mundo neste ano, incluindo os plantios de milho e soja nos Estados Unidos, trigo na Rússia e Austrália e soja no Brasil e na Argentina. Isto contribuiu para um aumento de 6% nos preços globais dos alimentos de junho a julho, segundo dados da ONU.

A Índia estava experimentando sua quarta seca em 12 anos, o que aumenta as preocupações sobre a confiabilidade da principal fonte de água doce do país, as chuvas das monções que caem de junho a outubro.

As chuvas, vitais para os 55% de terras agrícolas sem irrigação da Índia, voltaram neste mês. Embora as precipitações ainda estejam 10% aquém do normal para a estação, a gravidade da seca diminuiu.

Antes das últimas chuvas, os agricultores nesta aldeia a 400 km a leste de Mumbai se sentiam à beira da catástrofe. "Nada pode acontecer sem água", disse Vilas Dinkar Mukane, que planta soja, cana-de-açúcar e algodão.

Alguns cientistas advertem que as monções erráticas na Índia e em seus vizinhos Paquistão, Sri Lanka e Bangladesh fazem parte de uma tendência que provavelmente se intensificará nas próximas décadas, por causa das mudanças climáticas causadas pela liberação humana de gases do efeito estufa.

Estudos com 130 anos de dados mostram grandes mudanças nas precipitações nas últimas décadas, segundo B. N. Goswami, diretor do Instituto Indiano de Meteorologia Tropical, uma organização de pesquisa apoiada pelo governo. Modelos climáticos sugerem que, enquanto as chuvas em geral deverão aumentar nas próximas décadas, a região pode esperar períodos de seca mais longos e precipitações mais intensas.

"As chuvas pesadas geralmente duram pouco, e portanto a água se esgota", disse o doutor Goswami. "As chuvas fracas são importantes para reabastecer a água do subsolo."

A Índia é mais vulnerável a problemas da seca do que países como os EUA. Enquanto a agricultura responde por apenas 15% de sua economia, a metade de seus 1,2 bilhão de habitantes trabalha em fazendas, e muitas pessoas pobres não podem comprar alimentos suficientes depois dos aumentos de preços de 10% ou mais nos últimos anos.

"Esse tipo de falhas nas precipitações tem muitas consequências humanas", disse Yoginder K. Alagh, presidente do Instituto de Gerenciamento Rural. "Um grande número de pessoas não tem emprego. Existem problemas agudos de água potável."

A produção de grãos e sementes oleaginosas na Índia poderá cair até 12% este ano em consequência das chuvas escassas, disse P. K. Joshi, diretor para a Ásia Meridional do Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas Alimentares.

Mas a seca provavelmente não resultará em fome. A Índia tem mais de 69 milhões de toneladas de trigo, arroz e outros cereais em estoque, em parte por causa do apoio ao governo a essas plantações e da proibição de exportações. Mas analistas esperam que os preços de laticínios, carne, lentilhas e legumes aumentem.

Os especialistas dizem que o impacto das chuvas fracas foi intensificado pela má administração. O ministro-chefe de Maharashtra, Prithviraj Chavan, disse que grande parte dos US$ 1,5 bilhão por ano que o Estado gastou em projetos hídricos parece ter sido desperdiçada, com nenhum aumento na área de terra agrícola irrigada na última década.

Kiran Singh Pal, um engenheiro do governo que administra o sistema de irrigação na região, disse que a manutenção é fraca devido à falta de dinheiro e funcionários. Muitos agricultores não receberam água do governo porque parte foi captada por proprietários de terras poderosos.

"Temos água suficiente para irrigar todos os campos", disse Pal. "O problema é que não temos controle."

Neha Thirani colaborou com pesquisa de Mumbai

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