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Inteligência - Roger Cohen

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Necessidade de firmeza sobre o Irã

Londres

As paisagens políticas tendem a mudar, mas uma constante é o firme apoio do Congresso dos Estados Unidos a Israel. Não há um lado positivo para os membros do Congresso apoiarem a Palestina; na verdade, seria quase um suicídio político. O resultado disso, como o presidente Obama descobriu, é que o espaço político para seguir novas ideias na busca por uma paz israelense-palestina é limitado.

Por isso foi notável ver Barbara Boxer, uma senadora democrata e autora da Lei de Cooperação de Segurança Reforçada EUA-Israel, criticar o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu neste mês. Em uma carta ao líder israelense, ela disse que estava "chocada" e decepcionada por seu questionamento do apoio americano a Israel e exigiu que Netanyahu "esclarecesse" o que quis dizer com suas críticas aos EUA em relação ao Irã.

"O senhor está sugerindo que os Estados Unidos não são o mais próximo aliado de Israel e não apoiam Israel?", escreveu Boxer. "O senhor está dizendo que Israel, sob o presidente Obama, não recebeu mais em ajuda de segurança anual dos EUA do que em qualquer momento de sua história, incluindo para o Sistema de Defesa de Mísseis Cúpula de Ferro?"

Netanyahu tem dito e sugerido justamente isso, inserindo-se na campanha eleitoral dos EUA do lado de seu amigo Mitt Romney, recusando-se a contestar a ultrajante afirmação de Romney de que Obama atirou Israel "embaixo de um ônibus", enquanto insiste que não está se intrometendo na política americana. Não poderia haver engano sobre quem era o alvo de sua ira quando ele declarou: "Aqueles da comunidade internacional que se recusarem a colocar linhas vermelhas diante do Irã não têm o direito moral de colocar uma luz vermelha diante de Israel".

Algumas coisas precisam ser ditas sobre esse comentário. A primeira é que Obama nunca colocou uma luz vermelha diante de Israel; pelo contrário, ele reconheceu explicitamente o "direito soberano" de Israel de tomar suas próprias decisões sobre segurança.

A segunda é que Israel criou um problema para si mesmo. Ele disse todos os anos, nos últimos 12 aproximadamente, que o Irã está a seis meses de cruzar a linha vermelha da capacidade ou da produção da bomba nuclear. A última metáfora de Netanyahu, que conhece futebol americano e marketing, é que o Irã está a "20 jardas" de um "touchdown" [gol].

Sua intenção é clara: fazer os EUA embarcarem em sua terceira guerra em um país muçulmano na última década. Mas por que um presidente americano desejaria se comprometer estabelecendo "linhas vermelhas" para o Irã, quando as de Israel repetidamente não passaram de figuras de linguagem, e quando a inteligência ocidental ainda adota a opinião de que o perturbador programa de enriquecimento de urânio do Irã ainda não é um programa de fabricação de bombas?

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, estava certa ao insistir que "não estamos definindo prazos". E o general Martin Dempsey, presidente do estado-maior conjunto, estava certo ao deixar claro que os EUA se opõem a um ataque militar israelense neste momento e não querem ser "cúmplices" em um ataque.

É importante manter a cabeça fria. Os problemas muçulmanos com o Ocidente ferveram novamente, instigados por um filme lamentável que retrata o profeta Maomé como um bufão obcecado por sexo. Um ataque ao Irã, o país entre o Iraque e o Afeganistão, atiraria a região em um conflito total, insuflaria o terrorismo, radicalizaria ainda mais o sentimento contra os EUA e a Europa, levaria o petróleo a US$ 300 o barril -e provavelmente só conseguiria retardar o Irã um ano ou dois.

Com um custo tão alto, o perigo deve ser demonstrável, iminente e irrefutável. Certamente, essa é uma lição aprendida com o Iraque. O programa nuclear do Irã, que vem circulando em uma zona de ambiguidade há décadas (o Paquistão foi de zero à bomba em cerca de dez anos), ainda não cumpre esses critérios. O presidente Obama disse que não permitirá que o Irã se torne nuclear. Eu acredito nele -e minha sensação é de que o aiatolá Ali Khamenei, o "líder supremo" do Irã, também acredita nele. Khamenei é o "guardião da revolução". Esse é um negócio conservador, avesso a riscos. Netanyahu deveria acreditar na palavra de Obama em vez de tentar fazer jogos maliciosos com "linhas vermelhas".

Documentos desclassificados recentemente mostram que os EUA deixaram de pressionar Israel o suficiente para evitar o massacre de Sabra e Chatila em 1982, quando militares israelenses permitiram que uma milícia libanesa de direita entrasse nos campos de refugiados palestinos. Durante os aquecidos diálogos israelenses-americanos, Ariel Sharon, então ministro da Defesa, explodiu: "Quando se trata de nossa segurança, nunca perguntamos. Nunca perguntaremos. Quando se trata de existência e segurança, é nossa própria responsabilidade e jamais deixaremos que alguém decida por nós".

O sofrimento judeu que é o pano de fundo desse veemente "nunca mais" não deve ser esquecido. Mas Sabra e Chatila foram um desastre para Israel. Esse é um lembrete útil da necessidade de firmeza dos EUA e prudência de Israel sobre o Irã. Um Netanyahu cabeça-dura está alienando os amigos americanos de Israel -entre eles Obama e Boxer- de uma maneira que é ao mesmo tempo ingrata e prejudicial aos verdadeiros interesses estratégicos de seu país.

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