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O público e o eleitoral quando presidentes são candidatos

Iniciativas do governo com timing pensado

Por PETER BAKER
e ERIC LIPTON

WASHINGTON - Todo presidente vive na intersecção da política e das estratégias públicas, e em nenhum momento isso é mais real que numa campanha eleitoral.

Travando uma disputa apertada com Mitt Romney, o presidente Obama e sua equipe vêm acionando todos os dispositivos do governo federal que estão ao seu alcance, anunciando iniciativas voltadas para setores críticos do eleitorado, despachando secretários do gabinete para áreas em disputa, coordenando eventos de campanha para que coincidam com ações governamentais que vão agradar à população e prevenindo ou até mesmo revertendo outras decisões do governo que possam prejudicar as chances do presidente de ser eleito para um segundo mandato.

Em 21 de setembro, Obama anunciou que o sítio arqueológico de Chimney Rock, no Colorado, passa a ser um monumento nacional, preservando milhares de hectares de floresta e beneficiando o turismo em outro Estado indeciso entre ele e o candidato republicano. O anúncio foi transmitido a um jornal de Denver dois dias antes.

Quando viajou ao Iowa no mês passado, Obama chegou justamente quando seu governo anunciava medidas de ajuda a agricultores afetados pela seca e divulgava um relatório promovendo o apoio de Obama à energia eólica.

Após críticos o terem atacado por prejudicar a produção de óleo e gás por considerar que um lagarto obscuro fazia parte da lista de espécies ameaçadas de extinção, o governo decidiu que o lagarto não está tão ameaçado assim.

Alguns dos mais importantes anúncios de políticas públicas feitas nos últimos meses foram direcionados a blocos importantes do eleitorado. Obama inverteu sua posição para endossar o casamento homossexual antes de comparecer a um grande evento de arrecadação de fundos com líderes gays e lésbicas.

Antes de discursar para uma organização latina nacional, ele usou do poder executivo para permitir que imigrantes ilegais permanecessem no país, se tivessem chegado quando eram crianças.

Funcionários da Casa Branca reconhecem que calibram os anúncios e as viagens para aproveitar ao máximo as vantagens proporcionadas pelo fato de Obama ser presidente, mas disseram que as decisões sobre políticas públicas são feitas em função de seu conteúdo. E observaram também que, embora secretários do gabinete viajem para Estados indecisos entre os dois candidatos presidenciais, também vão a outros Estados. E disseram ainda que, em algum nível, é impossível diferenciar o candidato do presidente.

"O presidente não vai adiar ações que ele acredita serem importantes, como proteger empregos de trabalhadores americanos, até depois da eleição", disse Eric Schultz, porta-voz da Casa Branca.

Os republicanos enxergam as coisas sob outra ótica. "Obama parece estar usando o poder do Gabinete Oval para favorecer sua reeleição", disse Matt Schlapp, que foi diretor político da Casa Branca na Presidência de George W. Bush. "É justo indagar: se esta decisão sobre a China foi tomada por razões de interesse público, por que aguardar até logo antes do primeiro debate para anunciá-la?"

Cada administração americana testa seus limites. O presidente Bill Clinton usou o Quarto de Lincoln para receber doadores financeiros. Karl Rove, o estrategista de Bush, comandou uma "equipe de alocação de ativos" que administrava viagens e anúncios de doações.

O trabalho de arrecadação de fundos feito por Bill Clinton quando foi presidente suscitou investigações no Congresso, e o Escritório de Advocacia Especial, um órgão independente, concluiu que a Casa Branca de Bush violou as leis federais ao criar um "centro de decisão política" que coordenava a campanha do então presidente.

A mesma agência determinou que Kathleen Sebelius, a secretária de Saúde e Serviços Humanos, violou a lei ao defender a reeleição de Obama durante uma viagem oficial que ela fez à Carolina do Norte. A descrição da viagem foi mudada para política, e seus custos foram reembolsados.

"Manter a separação entre os papéis pode ser difícil, especialmente em viagens que envolvem escalas de campanha e oficiais no mesmo dia", Sebelius escreveu aos responsáveis pela investigação sobre sua viagem.

Mas, no dia em que um repórter indagou sobre a confusão entre política eleitoreira e políticas públicas numa viagem feita pelo secretário do Interior, Ken Salazar, à Flórida, a campanha de Obama enviou um cheque de US$ 1.606,24 para reembolsar os contribuintes pelas despesas do secretário com passagens aéreas. Autoridades disseram que o timing do reembolso foi coincidência.

Em agosto, depois de advogados e economistas do governo terem confirmado a existência de um programa de subsídio chinês a automóveis e autopeças que, para eles, viola as normas comerciais internacionais, a equipe política de Obama tomou conta da questão, dando um exemplo clássico de como um presidente em exercício pode atrelar o poder de seu cargo para reforçar os argumentos em favor de sua reeleição. Obama decidiu fazer o anúncio ele próprio. Assessores programaram o anúncio para durante uma escala de campanha no Ohio, Estado indeciso eleitoralmente e que depende da indústria automotiva; além disso, vazaram a notícia para o maior jornal do Estado e enviaram a outros jornalistas um link para a matéria, com pontos de discussão que poderiam agradar aos eleitores.

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