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Arte & Estilo

A charmosa (e mórbida) carreira de Tim Burton

POR DAVE ITZKOFF

LONDRES - O fato de a palavra "Burtonesque" ter se tornado parte do léxico cultural americano é um indício da influência exercida por Tim Burton, 54, numa carreira que abrange 16 longas-metragens e quase 30 anos.

Em filmes tão díspares quanto "Os Fantasmas se Divertem", "Edward Mãos de Tesoura", "Ed Wood", "Alice no País das Maravilhas" e "Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas", Burton desenvolveu uma sensibilidade singular de humor sombrio e fixação mórbida. Ele praticamente inventou o vocabulário dos filmes modernos de super-heróis (com "Batman"), infundiu nova vitalidade à animação "stop motion" (com "A Noiva Cadáver", dirigida em conjunto com Mike Johnson, e "O Estranho Mundo de Jack", que Burton produziu), e hoje é associado a qualquer coisa que seja espectral ou gótica.

Tão notável é sua visão, que o Museu de Arte Moderna de Nova York já promoveu uma retrospectiva de sua carreira.

Seu sucesso o levou dos subúrbios do sul da Califórnia, onde cresceu, para Londres, onde ele vive com a atriz Helena Bonham Carter e dois filhos pequenos.

Recentemente, Burton conversou sobre seu novo longa de animação, "Frankenweenie", a ser lançado globalmente pela Disney em outubro e novembro. Adaptado de um curta-metragem de ação ao vivo que Burton fez em 1984, o filme conta a história de um garoto que faz seu cachorro morto voltar a viver.

NYT - Não apenas "Frankenweenie" remete ao início de sua carreira, como parece conter referências a muitos dos longas que você dirigiu desde o curta original. Isso é proposital?

Tim Burton - As coisas com as quais convivi na juventude permanecem comigo. Você começa de uma certa maneira e depois passa sua vida toda tentando reencontrar a simplicidade que possuía no início.

Vinte e três anos depois de "Batman", ao ver como os filmes de super-heróis viraram a espinha dorsal de Hollywood, você sente orgulho, considera-se responsável por isso?

Não me sinto responsável. Na época, me pareceu ser a primeira tentativa de criar uma versão mais dark de uma história em quadrinhos. Hoje, o filme parece uma brincadeira despreocupada. Se eu me recordo corretamente, meu filme não foi bem recebido pela crítica.

Pelo fato de ter uma vida com Helena Bonham Carter, você precisa ter mais cuidado ao usá-la em seus filmes?

Acho que levo um momento a mais para tomar a decisão. Foi bastante difícil em "Sweeney Todd". Aquele filme foi um esforço, porque eu pensei "existem muitas cantoras maravilhosas, e vai parecer que dei o papel para minha namorada". Helena realmente passou por um processo extra.

Seu remake de "Planeta dos Macacos" o apresentou a Helena. Mas, tirando isso, foi um momento profissional ruim?

Tento aprender a lição. "Planeta dos Macacos" é visto como um de meus filmes menos bem-sucedidos. Ao mesmo tempo, pude conhecer e trabalhar com muitas pessoas maravilhosas.

Algum dia você vai explicar o final do filme?

Tudo foi pensado e calculado. Mas é uma coisa particular minha. Algum dia vamos tomar um pouco de LSD e falar sobre isso.

É perigoso ter um estilo que, de tão próprio, passa a ser reproduzido com freqüência?

Isso me incomoda um pouco, sim. Mas não posso mudar minha personalidade. Às vezes eu gostaria de poder, mas não posso.

Depois de ter uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna, você se sente à prova de balas?

Aquilo foi surreal. Muitas pessoas pensaram que eu tinha manufaturado aquilo, o que não foi o caso. O museu me procurou, e eu, na realidade, fiquei bastante angustiado. Para mim, meu trabalho é algo particular. Nunca tive a intenção de que ele fosse visto como uma grande arte.

Pode parecer estranho perguntar isso a alguém que ainda tem muitos anos de trabalho pela frente, mas o que você gostaria que fosse o seu legado?

O que eu quero na lápide de meu túmulo?

Isso soa como algo sobre a qual você já pensou...

É verdade, eu penso nisso. Acho que é conveniente planejar com antecedência. Não é um pensamento mórbido. Se você quer que uma coisa aconteça de determinada maneira, especialmente a última coisa, é uma boa ideia planejar antes.

O que é mais importante para mim é fazer algo que impacte as pessoas comuns, aquelas que me abordam na rua com uma tatuagem de "O Estranho Mundo de Jack", ou que, especialmente no Halloween, se fantasiam de Noiva Cadáver, o Chapeleiro Maluco ou Sally. Não são os críticos, não são as bilheterias. São coisas que você sabe que estão encontrando eco com pessoas reais.

Seus filhos já têm idade suficiente para ver filmes. Você tenta influenciar o gosto deles?

Senti orgulho quando minha filha disse que seu filme favorito era "War of the Gargantuas". Mas, agora que ela está mais velha, já se desligou um pouco disso. Eu não procuro impor minhas coisas a eles. Acho que eles vão descobrir meus filmes um dia, ou não.

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