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Artista alia tecnologia e abstração

A arte pop e abstrata que sai de uma impressora

POR CAROL VOGEL

NOVA YORK - O artista Wade Guyton trabalha em um espaço amplo e cheio de luz em Chinatown. Em seu ateliê, não há cheiro de terebintina, cavaletes desarrumados, latas de tinta ou telas. Isso porque toda a sua criação é executada em telas de computador e impressoras.

"Eu nunca gostei de desenhar ou das aulas de arte", diz Guyton sem hesitar ao descrever sua infância em uma pequena cidade do Estado de Tennessee. "Eu preferia ficar vendo TV ou jogando videogames."

Algumas semanas antes, Guyton, 40, esperava ansiosamente uma obra de listras vermelhas e verdes brotar com lentidão da impressora, esparramando-se pelo chão. O desenho repetitivo não era impresso em papel, mas em um linho que o artista importou da França por ter gostado de sua superfície macia.

Guyton encontrou aquela imagem em um livro, que teve suas páginas rasgadas para serem escaneadas pelo artista. Ele se lembra da atração que sentiu pelo desenho quando viu o livro "aberto sobre uma pilha de coisas". "São cores de Natal estranhas, há uma sensação óptica nelas. Para mim, é interessante pegar algo insignificante e menor, sem efeito próprio, e deixar que isso se alterne de muitas maneiras diferentes".

Ele alongou a imagem no computador e o resultado impresso foi uma espécie de desenho reticulado, algo que Roy Lichtenstein teria feito se criasse pinturas abstratas.

Menos de uma década atrás, Guyton não conseguia que um marchand lhe desse atenção. Hoje ele é representado pela Friedrich Petzel Gallery, e seus colecionadores conhecidos compram avidamente sua arte, cujos exemplos estão nos acervos dos Museu de Arte Moderna de Nova York, Museu de Arte Moderna de San Francisco e Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles.

No dia 4 de outubro haverá uma retrospectiva do trabalho de Guyton no Museu Whitney de Arte Americana, chamada "Wade Guyton OS". "OS" significa "sistema operacional", o software que suporta as funções básicas de um computador.

"Eu percebi que o processo de desenhar não tinha sentido para mim", diz Guyton. "O trabalho não se equiparava ao que eu tentava fazer. E pensei que a impressora poderia fazer essas coisas melhor do que eu."

Com artistas como Kelley Walker (um amigo com quem ele costuma colaborar), Seth Price e Tauba Auerbach, Guyton está na vanguarda de uma geração que reconsidera a apropriação e a arte abstrata através das lentes tecnológicas do século 21.

"Wade fala do modo como as imagens viajam em nossa cultura visual, em nossos computadores e iPhones, televisores e livros", diz Scott Rothkopf, o curador do Whitney que organizou a exposição. "Ele descobriu uma maneira de fazer obras que lidam com tecnologia. Elas não parecem truncadas ou mecânicas, mas sim intuitivas. É abstrato de um lado e pop de outro."

Ann Temkin, chefe da curadoria de pintura e escultura do Museu de Arte Moderna, explicou seu antigo fascínio pelo trabalho de Guyton. "Você toca uma tecla com o dedo e surge essa imagem enorme", disse. "Vai contra tudo o que pensamos como pintura." Para ela, o trabalho de Guyton lembra outros marcos históricos que tentaram levar a noção de pintura para novas direções.

"Pollock espalhava a tinta", diz Temkin. "Rauschenberg fazia serigrafias, Richter passava o rodo, Polke usava produtos químicos. Wade está trabalhando no que hoje é uma tradição venerável, contra a ideia tradicional de pintura."

Duas telas gigantescas de listras vermelhas e verdes estão incluídas na exposição no Whitney. A maior -que alcança 15 metros- tem borrões de tinta vermelha e a ilusão de dobras onde as listras foram impressas fora de registro.

São as imperfeições que resultam de um emperramento da impressora, ou a tinta subitamente pegajosa ou fraca, que tornam as telas de Guyton mais artísticas.

"Seria errado tentar corrigir essas coisas", diz ele. "Esse é um processo de registro, assim como de produção. E eu tenho de viver com ele, com borrões e tudo."

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