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Lente

Terra dos livres e dos fraudadores

"Vida, liberdade e a busca da felicidade" é a frase na Declaração de Independência dos Estados Unidos que define os diretos inalienáveis dos americanos e seu lema.

Mas fraudar e mentir também o são.

Hoje, organizações noticiosas empregam exércitos de repórteres para checar os discursos dos candidatos presidenciais, averiguando a veracidade do que é dito. O banco Goldman Sachs teve que desembolsar US$ 550 milhões devido a acusações de ter induzido investidores ao engano com relação a hipotecas de alto risco, e um escândalo no competitivo colégio Stuyvesant, em Nova York, revelou que em junho 71 de seus alunos trapacearam num exame estadual.

Um estudante que copiou reações químicas numa folha de papel para servir de cola em sua prova de química justificou o que estava fazendo dizendo que decorar as fórmulas seria uma perda de tempo. "Vou ser honesto e ser reprovado no exame?" disse ao "New York Times". "Não, ninguém quer ser reprovado. Eu poderia estudar duas horas e tirar 8 ou me arriscar e tirar 9."

Um aluno disse recentemente que, já que não respeitava seu professor de francês, ele não viu problema em fraudar o exame final dessa disciplina. Afinal, isso lhe daria mais tempo para os trabalhos escolares de que gostava.

Os alunos do colégio Stuyvesant aprendem a fazer esses cálculos já na metade do primeiro ano do ensino médio: pesar a importância relativa das disciplinas, a chance de receber uma nota A versus a possibilidade de ser flagrado colando, de manter sua integridade ou conseguir entrar numa faculdade de elite.

Pescadores que mentem sobre o tamanho dos peixes que pescaram não constituem novidade, mas enfiar objetos pesados dentro dos peixes ou enchê-los de água para aumentar seu peso são algumas das técnicas mais recentes usadas em concursos de pesca, revelou o "New York Times".

As acusações de fraude já se tornaram comuns no Texas, em Louisiana, na Flórida e outros Estados, fato que não surpreende tanto quando se considera que muitos concursos de pesca hoje distribuem entre US$ 100 mil e US$ 500 mil em prêmios.

Os participantes podem levar para o concurso peixes que pescaram há muito tempo antes da competição.

Kurt Kelley trabalha há 13 anos no Departamento de Parques e Vida Silvestre do Texas, tendo investigado 30 casos de fraude em concursos de pesca, incluindo um caso que se arrastou por quase dois anos e envolveu um participante que apresentou um peixe morto.

"Para mim, é a mesma coisa que alguém assaltar um banco ou roubar produtos do Walmart", disse Kelley ao "New York Times". "As pessoas fazem coisas desonestas para poder ganhar. Isso é fraude. Isso suja o nome dos pescadores que participam de concursos."

O trabalho de Kelley, de rastrear trapaceiros, rende até US$ 60 mil por ano no Texas. Já Bradley Birkenfeld, ex-banqueiro do UBS, vai receber US$ 4.600 por cada hora dos dois anos e meio que cumpriu como pena de prisão por acusações de fraude. Birkenfeld vai receber um prêmio de delação no valor de US$ 104 milhões por ter revelado segredos de bancos suíços e posto fim ao papel deles de paraíso de sonegadores de impostos americanos, com isso permitindo que o Tesouro americano recupere bilhões de dólares em impostos sonegados.

"A Receita americana enviou 104 milhões de mensagens a delatores em todo o mundo, dizendo que hoje existe uma maneira segura de delatar fraudes fiscais", escreveram seus advogados em comunicado à imprensa.

Birkenfeld foi solto da prisão em 1° de agosto e terá que pagar um imposto de 35% sobre o prêmio de US$ 104 milhões. Ele ficará com US$ 73,6 milhões, valor do qual serão deduzidos os honorários de seus advogados.

TOM BRADY

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