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New York Times

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Grupos civis no Cairo evitam e punem assédios

POR AREEM FAHIM

CAIRO - Homens circulavam pelas ruas em volta da praça Tahrir, observando atentamente a multidão que aproveitava o feriado. De repente, eles começaram a empurrar pessoas para os lados e a perseguir um rapaz. Enquanto ele se debatia, tentando fugir, os homens socaram suas costas e pintaram nelas uma mensagem com tinta em spray: "Sou um molestador".

Não é de hoje que as ruas egípcias são perigosas para as mulheres, que com frequência são assediadas, agarradas, ameaçadas e violentadas enquanto a polícia nada faz. No entanto, agora estão surgindo mais grupos que têm como causa proteger as mulheres e cobrar a polícia.

Após o levante da Primavera Árabe, os ataques ganharam visibilidade. Até militares foram apontados como tendo tirado as roupas de manifestantes mulheres, ameaçado outras com violência e as sujeitando aos chamados "exames de virgindade".

Durante os feriados, quando os cairotas saem às ruas, os ataques a mulheres se multiplicam. Mas, no feriado recente de Id al Adha, alguns dos homens se surpreenderam ao descobrir que não podiam mais assediar com impunidade. A mudança na situação se deve não apenas à preocupação com os direitos das mulheres, mas também à frustração com o governo por ele fazer tão pouco para proteger seus cidadãos.

Pelo menos três grupos de cidadãos patrulharam a região central do Cairo. Seus integrantes compartilhavam a convicção de que as autoridades não tomarão medidas contra o assédio às mulheres a não ser que o problema seja colocado forçosamente em discussão pública. Algumas pessoas criticavam esses grupos por eles recorreram à violência.

O trabalho dos grupos de cidadãos pode estar tendo efeito. Depois do feriado de Id al Adha, no final de outubro, o porta-voz do presidente Mohamed Mursi anunciou que o governo recebeu mais de mil denúncias de assédio e que o presidente pediu ao Ministério do Interior que as investigue. "A revolução egípcia não pode tolerar esses abusos", teria dito Mursi, segundo o porta-voz presidencial.

Azza Soliman, diretora do Centro de Assistência Jurídica às Mulheres Egípcias, minimizou as palavras do presidente, que qualificou como "fracas". Ela contou que um de seus filhos foi espancado no metrô no feriado quando tentou impedir um homem de bolinar duas mulheres estrangeiras. A polícia tentou impedir seu filho de registrar queixa. "O mundo inteiro está falando do assédio sexual em nosso país", falou Soliman. "Mas o Ministério do Interior nada faz."

O levante parece ter imprimido mais urgência e energia ao esforço. No feriado, os vários grupos patrulharam partes do centro do Cairo. Um dos grupos evitou atos de violência, formando cordões humanos entre as mulheres e os homens que queriam atormentá-las. Outro grupo enfrentou homens e rapazes suspeitos de cometer assédio, dando alguns tapas neles antes de levá-los a uma delegacia de polícia.

Uma das fundadoras desse grupo é Sherine Badr el Din, 30, que começou seu trabalho anti-assédio pedindo a homens que descessem dos vagões do metrô cairota reservados para mulheres. Quando eles recusaram, ela os filmou e postou suas fotos na internet.

No verão passado, um dos homens a atacou. "Eu quis registrar uma denúncia, mas o policial se recusou, dizendo que estava ali apenas para monitorar os horários dos trens." Sherine disse que o grupo escalou suas táticas por frustração, depois de a polícia ter começado a soltar homens que o grupo tinha capturado. "A violência não é nosso método", falou. "Mas a pressão era tremenda."

Recentemente, o grupo se reuniu perto da praça Tahrir. Um dos integrantes portava o que parecia ser uma arma de choque, outro, uma lata de tinta em spray. Alguns dos participantes usavam coletes verdes fluorescentes com os dizeres "combate ao assédio" estampados nas costas.

Eles refletiram sobre as razões dos ataques. Não encontraram resposta segura, apesar de a responsabilidade frequentemente ser atribuída à pobreza, à religião, à indiferença da sociedade ou ao machismo do Estado.

Em alguns casos, a patrulha entrava em ação depois de ver uma mulher ser bolinada. Em outros, justificava seus ataques como sendo preventivos.

Quando o feriado chegou ao fim, Nihal Saad Zaghloul, 27, disse que seu grupo tinha impedido mais de 30 molestadores. Ela entrou para o grupo depois de ser atacada com uma amiga. Porém, ela não faz críticas tão fortes aos policiais quanto outras pessoas. "A polícia não tem efetivos suficientes. Ao mesmo tempo, faz parte de uma sociedade que sempre põe a culpa nas mulheres", diz Zaghloul.


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