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New York Times

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Ensaio - Clayton M. Christensen

Soluções para um dilema capitalista

O ciclo de inovação está desequilibrado

Quem consegue consertar a economia americana? Não será o Federal Reserve. O Fed (o BC americano) tem injetado cada vez mais capital na economia porque, pelo menos na teoria, o capital alimenta o capitalismo. Mas bilhões de dólares repousam ociosos em grandes corporações e fundos de investimentos.

Com esse capital, executivos poderiam financiar três tipos de inovação. Chamarei o primeiro tipo de "empoderamento". São ações que transformam produtos complicados e caros, disponíveis para poucos, em produtos mais simples e baratos, disponíveis para muitos.

O Modelo T, daFord, foi uma inovação de "empoderamento". A computação em nuvem também, ao transformar certas tecnologias da informação em algo acessível até a pequenas empresas.

Inovações de "empoderamento" geram empregos, porque exigem mais pessoal para fabricar, distribuir, vender e prestar assistência para tais produtos.

O segundo tipo é o das inovações de "sustentação". Como o Toyota Prius, eles substituem os produtos de ontem por produtos de hoje e criam poucos empregos.

O terceiro tipo são as inovações de "eficiência". Elas reduzem o custo de fabricação e distribuição de produtos e serviços. Miniusinas siderúrgicas são um exemplo. Tais inovações reduzem o número de empregos, porque simplificam processos. Mas elas também preservam muitos dos empregos restantes, porque, sem eles, empresas e setores inteiros desapareceriam na concorrência contra empresas do exterior que tenham inovado de forma mais eficaz.

As inovações de "eficiência" também emancipam o capital. Sem elas, o capital fica refém dos balanços financeiros.

Geralmente, a atividade econômica transita por esses três tipos de inovação. Por exemplo: as empresas tiveram de contratar centenas de milhares de pessoas para fabricar e vender computadores pessoais "empoderadores". Essas empresas então desenvolveram e fabricaram computadores melhores, sustentando inovações que nos inspiraram a continuar comprando esses produtos melhores e mais novos. Finalmente, empresas como a Dell tornaram o setor muito mais eficiente. Isso reduziu a geração líquida de empregos, mas liberou capital.

Idealmente, as três inovações operam em um círculo recorrente.

Nas sete recuperações americanas, que aconteceram após as recessões entre 1948 e 1981, segundo o Instituto Global McKinsey, a economia levava cerca de seis meses para voltar ao seu pico de emprego pré-recessão.

Mas a recuperação de 1990 levou 15 meses. A de 2001, 39 meses. Desta vez, 60 meses já se passaram. Por quê?

A resposta: inovações de "eficiência" estão liberando capital, mas nos EUA esse capital está sendo reinvestido em mais inovações de "eficiência". Por outro lado, os EUA têm gerado bem menos inovações de "empoderamento". Precisamos recuperar o equilíbrio entre as inovações de "empoderamento" e de "eficiência".

Em meu livro "O Dilema da Inovação", mostro como empresas bem-sucedidas podem fracassar tomando decisões corretas nas situações erradas. Os EUA hoje estão num paradoxo macroeconômico que poderíamos chamar de "o dilema do capitalista". Continuar mensurando a eficiência do capital impede o investimento em inovações de "empoderamento", que criariam o novo crescimento do qual precisamos, porque tal investimento iria derrubar sua remuneração.

Estamos despejando mais capital num oceano de capital, e, ao fazê-lo, estamos tentando resolver o problema errado.

Há solução? Essas três ideias podem semear uma discussão produtiva:

MUDAR A MÉTRICA Atualmente, o capital é abundante e barato. Mas não podemos mais desperdiçar a educação, subsidiando-a em campos que oferecem poucos empregos. Otimizar o retorno sobre o capital irá gerar menos crescimento do que otimizar o retorno sobre a educação.

MUDAR AS ALÍQUOTAS TRIBUTÁRIAS SOBRE GANHOS DE CAPITAL A alíquota do imposto de renda de pessoa física sobe quando ganhamos mais dinheiro. Por outro lado, há apenas duas alíquotas sobre a renda de investimentos: para curto prazo e longo prazo. Em vez disso, deveríamos tornar os ganhos de capital regressivos ao longo do tempo. Investimentos de curto prazo deveriam continuar sendo taxados com a alíquota do imposto de pessoa física. Mas a taxa deveria ir caindo conforme o investimento for mantido por mais tempo. Essa alteração teria impacto positivo sobre o deficit federal, por causa dos impostos pagos por empresas que fazem inovações de "empoderamento" e por seus empregados

MUDAR A POLÍTICA Os dois principais partidos dos EUA estão errados quando se trata de taxar e distribuir para a classe média o capital do 1% mais rico. Sem produtos e serviços de "empoderamento" na nossa economia, a maior parte da redistribuição de riqueza será gasta comprando inovações de "sustentação", substituindo consumo por mais consumo. Precisamos dar aos mais ricos um incentivo para investimentos de longo prazo. Isso pode gerar crescimento.


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