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New York Times

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ARTE & ESTILO

Aos 50 anos, Rolling Stones fazem a anarquia soar clássica

POR JON PARELES

Cinquenta anos.

"Não há como escapar desse número", disse Keith Richards com uma risadinha irônica, de Paris, onde os Rolling Stones ensaiavam. Liderados por Mick Jagger e Richards, os Stones fizeram seu primeiro show em 1962.

Faltando menos de dois meses para o cinquentenário da banda, a máquina da comemoração já entrou em operação.

Há shows em grandes arenas programados em Londres (25 e 29 de novembro) e em Newark, nos EUA (13 e 15 de dezembro). Há documentários, novo (na HBO) e antigo (em DVD). Há até duas canções novas dos Stones gravadas neste ano: "Doom and Gloom", canção de Mick Jagger que menciona o "fracking" (extração de petróleo de rochas pelo fraturamento hidráulico) e "One More Shot", de Keith Richards.

Sob um aspecto, os Stones vêm fazendo a mesma coisa há meio século: tocando um rock'n'roll obstinadamente natural, sem polimento. Mas todos os significados que cercam essa música mudaram.

O que, no passado, era visto como radical, lascivo e até perigoso virou antiquado. As canções que antes chocavam os pais, agora são clássicos a serem transmitidos aos netos. Uma banda que, no passado, era sinônimo de volatilidade turbulenta virou -apesar de todas as probabilidades comerciais, culturais e químicas ao contrário- um símbolo de estabilidade.

Hoje os integrantes da banda a descrevem com um termo inesperado para os Rolling Stones: disciplina. "Embora pareça ser uma zona, é um grupo muito disciplinado", disse Richards.

O guitarrista Ronnie Wood, que entrou para a banda em 1975, concorda. "Não importa o que estiver acontecendo lá fora, não importa o quanto fizermos farra, sentimos que temos a responsabilidade de fazer uma ótima música."

A simples familiaridade, graças à passagem do tempo e das gerações, é uma das razões pelas quais a popularidade dos Stones perdura há tanto tempo. Mas, desde o final dos anos 1980, quando os Stones se reaproximaram, pode-se dizer que cada turnê e cada álbum têm sido uma celebração do que a banda realizou em seus primeiros 20 anos.

Jagger e Richards já tinham formado um catálogo de grandes canções: "(I Can't Get No) Satisfaction", "Ruby Tuesday" e "Honky Tonk Women", para citar apenas alguns dos clássicos.

O potencial de bilheteria da banda é inegável. Os álbuns gravados em estúdio pelos Stones, nos últimos anos, venderam pelo menos 1 milhão de cópias nos Estados Unidos, sem grandes singles de sucesso.

A nostalgia e as canções duráveis fazem parte da atração perpétua dos Stones. Outro elemento dessa atração são os espetáculos de rock em palcos grandiosos (que a banda ajudou a lançar), com pirotecnia ou, às vezes, um guindaste erguendo Mick Jagger sobre a multidão. Também ajuda as vendas de ingressos o fato de Jagger, aos 69 anos, ainda ter agilidade suficiente para dançar e contorcer-se no palco.

Os Rolling Stones mantêm seu som solto. Ele é ensaiado assim, e isso não deve ser confundido com um som desleixado. O som é precisamente impreciso. Acima da bateria de Charlie Watts, as duas guitarras da banda compartilham uma cama de gato musical. "Ficamos deslizando entre o ritmo e a guitarra principal", diz Richards.

Mesmo assim, as canções e a habilidade como "showmen" não explicam por inteiro o fascínio que os Stones ainda exercem sobre o público. Pouco depois de formarem a banda, eles fizeram uma escolha tão crucial quanto seus gostos musicais. Seu empresário no início dos anos 1960, Andrew Loog Oldham, os incentivou a virarem os "antiBeatles": o oposto de uma banda pop rock comportada, uniformizada, arrumadinha.

"Como os Beatles eram tão certinhos, estava na cara que eles faziam o papel de mocinhos", recordou Keith Richards. "O outro papel que podíamos representar era o de bandidos."

Essa atitude não apenas os libertou para se comportarem e terem a aparência que bem entendessem, como os converteu em arquétipos do rock, vivendo uma liberdade com a qual seus fãs só podiam sonhar.

O distante perfume de anarquia exalado pelos Stones ainda atrai fãs, especialmente porque ele é ressaltado pelo som da banda, preciso, porém solto.

Os Stones dizem que a moral está alta nos ensaios em Paris. "Quando as faixas das guitarras passam sobre nossas cabeças, a gente mergulha de volta", comentou Charlie Watts. "É isso o que nós fazemos." Keith Richards disse estar estarrecido com a longevidade da banda. "Há a sensação de que fomos feitos para fazer isso e estamos apenas seguindo o nosso caminho."


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