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New York Times

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Após 30 anos, épico da animação chega às telas

POR ROBERT ITO

Em 1996, o Festival de Cinema Húngaro de Los Angeles exibiu um trecho de 18 minutos de "A Tragédia do Homem", animação do diretor Marcell Jankovics, então em fase de produção.

Naquela parte, Lúcifer e Adão visitavam uma comunidade socialista em algum momento do sombrio futuro da Terra, numa época em que a poesia e o cultivo de rosas estariam proibidos, os bebês receberiam números em vez de nomes e cadáveres dissecados seriam reciclados para a produção de utensílios domésticos. Michelangelo -ou pelo menos sua forma reencarnada- seria um operário frustrado. Platão se dedicaria a pastorear bois.

"As pessoas amaram", conta Bela Bunyik, fundador do festival, rememorando aquela pré-estreia. O filme só foi concluído em 2011, como convém a um épico que começa na aurora da criação, termina com o último suspiro do homem e inclui escalas na Grécia antiga, na Praga do século 17, na Londres de Charles Dickens e no espaço sideral.

Com 160 minutos, incluindo um intervalo, o filme oferece sucessivos espetáculos visuais. Cada uma das suas 15 partes é animada com um estilo diferente. "Não será um filme que todo mundo vai ver", admitiu Jankovics.

A versão completa de "A Tragédia do Homem" tinha estreia marcada para ontem nos EUA, em uma volta àquele mesmo festival da sessão inaugural, 16 anos depois. Também fará quase três décadas que Jankovics começou a trabalhar no filme.

Festivais na Polônia, em Portugal, na Armênia e no Canadá também devem exibir o filme ainda neste ano.

"A Tragédia do Homem" é uma adaptação da peça homônima do poeta Imre Madach, traduzida para 90 línguas e considerada uma das grandes obras da literatura húngara. A ação se desenrola durante um longuíssimo sonho, no qual Adão, Eva e o falante Lúcifer visitam as grandes civilizações mundiais no auge do seu poder, observando como os mais nobres sonhos e esperanças da humanidade dão em nada.

Jankovics é o mais conhecido animador húngaro. Em 1976, seu curta "Sísifo", obra-prima sobre o rei fadado a empurrar uma pedra continuamente, foi indicado ao Oscar. No ano seguinte, "Kuzdok" [a luta] conquistou a Palma de Ouro de curta-metragem em Cannes.

"Na Hungria, as pessoas o conhecem como conhecem Walt Disney", disse Paul Morton, que estudou animação húngara.

Jankovics preparou cada parte de "A Tragédia do Homem" separadamente. Assim que um trecho era concluído, ele começava a captar verba para o próximo.

A equipe que ele comandou como diretor e roteirista do filme mudou substancialmente ao longo dos anos, com a aposentadoria e a morte de vários animadores.

"A voz de Deus e a de Lúcifer continuaram durante a produção inteira", disse Jankovics. "Mas [os dubladores de] Adão e Eva envelheceram, então atores mais jovens foram trazidos."

Os últimos tostões necessários para completar o filme apareceram em 2008, quando Jankovics autorizou a General Motors a usar "Sísifo" em um anúncio do modelo GMC Yukon Hybrid.

"A Tragédia..." já passou em cinemas de toda a Hungria, com elogios da crítica, e também em festivais da Rússia, da Sérvia e da República Tcheca. No momento, não há planos para um lançamento em circuito comercial.

O filme termina com o regresso de Eva e Deus e com uma orientação celestial: continuem lutando, continuem se esforçando, não importa quão ruim seja a vida.

Não é propriamente um final animador, mas, ao menos para os húngaros, é satisfatório.

Morton disse que, em Budapeste, escutou certa vez uma nativa explicando uma diferença fundamental entre as histórias húngaras e as americanas. Ela disse: "Vocês [americanos] sempre terminam a história com: 'E viveram felizes para sempre.'. Nós terminamos nossas histórias com: 'E viveram felizes para sempre... até morrerem.'".


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