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New York Times

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Resenha De Exposição/Edward Rothstein

O que cultivamos, comemos e jogamos fora

A exposição "Our Global Kitchen: Food, Nature, Culture" (Nossa cozinha global: comida, natureza, cultura), no Museu Americano de História Natural, em Nova York, alimenta o desejo de evocação de metáforas alimentares.

Mas, depois de digerir uma mostra picante e chegar à sobremesa multicultural leve -um filme sobre como as diferentes culturas associam comidas e festas populares-, você sai com uma visão ampliada do mundo e com uma compreensão maior do lugar que ocupa nele.

A mostra ressalta a enormidade do tema, abrangendo o desperdício de alimentos (30% globalmente) e sua escassez (a fome atinge 870 milhões de pessoas -uma em cada oito pessoas).

Ficamos sabendo que, todos os anos e em todo o mundo, são comprados e vendidos alimentos no valor de US$ 4 trilhões. Além disso, descobrimos que quase 2 bilhões de toneladas métricas de milho, de arroz e de trigo foram produzidos em 2010.

Na exposição, vemos ouriços-do-mar preparados na forma que eles eram servidos a Livia Drusilla, a esposa do imperador Augusto, na Roma antiga. Um diorama detalhado de um mercado asteca inclui uma bandeja de gafanhotos assados.

Vemos também o desjejum típico devorado pelo nadador olímpico Michael Phelps quando ele era adolescente: entre a lista de comida, estão uma omelete feita com cinco ovos e uma pilha de panquecas.

Ninguém que toma conhecimento das Unidades de Calor Scoville, ou SHUs (na sigla em inglês), que "informam quanta água com açúcar precisa ser acrescentada a uma pimenta moída para que o gosto dela deixe de ser sentido", voltará a afirmar que as pimentas do tipo jalapeño são fortes. O fator SHU delas varia de 2.500 a 5.000, mas existe em Trinidad uma variedade de pimenta que tem até 2 milhões de unidades de SHU.

Deixando de lado os detalhes surpreendentes, um tema maior percorre a mostra: como as sociedades transformam a natureza e como essas transformações podem ter resultados indesejados. Ficamos sabendo, no início da mostra, que praticamente nenhum alimento que cresce na natureza deixou de ser cultivado pelo homem. As bagas silvestres são muito menores que as que consumimos normalmente, porque, na maioria dos casos, as maiores foram selecionadas para o cultivo.

Essa prática de modificação genética seletiva é antiga. Ao longo dos séculos, uma única espécie de repolho silvestre, a Brassica oleracea, foi cultivada seletivamente para criar a couve-de-bruxelas, a couve, os brócolis, a couve-flor e a couve-rábano. As batatas eram venenosas até que povos andinos as transformaram em alimentos cultivados e comestíveis, entre 7.000 e 10 mil anos atrás.

Atualmente, procedimentos semelhantes já resultaram em galinhas que produzem mais ovos, em tomates com pele mais resistente (para facilitar o transporte) e no encolhimento constante do bacalhau do Atlântico, cujos maiores representantes foram pescados até o extermínio, quando deixaram de fazer parte do pool genético, deixando apenas indivíduos menores para se reproduzirem.

Também ficamos sabendo sobre os riscos da limitação da diversidade, que deixa as plantações mais vulneráveis. Um só fungo que atacou uma variedade única de batata gerou a devastadora fome do século 19 na Irlanda.

Um recipiente transparente enorme, cheio do que aparenta ser lixo, sugere a quantidade de comida jogada fora todos os anos por uma família americana típica de quatro pessoas: 750 quilos. Ao lado, um quadro compara o lixo alimentar de países de renda mais alta a outros de renda baixa, apontando para diferenças interessantes. De modo geral, porém, o que ficamos sabendo é que os ricos desperdiçam por descuido (por exemplo, jogando fora alimentos cultivados que não são perfeitos ou sendo rígidos quanto às datas de vencimento), e os pobres por inadequação resultante de carência de recursos (por exemplo, falta de refrigeração ou de boas rodovias para o transporte). Esse exemplo parece ter sido selecionado principalmente para reforçar uma admoestação simples, enquanto outros aspectos deixaram de ser tratados.

São propostas conclusões graves, sem comprovação suficiente. Num vídeo, chamado "Future of Food", cientistas sugerem que a agropecuária contribui para o aquecimento global. A curadora da mostra, Eleanor J. Sterling, diretora do Centro de Biodiversidade e Conservação do museu, diz (como também afirma a Organização de Alimentos e Agricultura das Nações Unidas) que 18% dos gases de efeito estufa mundiais vêm da criação de animais para o consumo humano.

Dois assessores do Banco Mundial foram além, argumentando que a cifra correta seria 51% -o que significaria que o Protocolo de Kyoto teria sido mais eficaz se tivesse se ocupado do vegetarianismo em vez dos combustíveis fósseis.

A exposição, que ficará em cartaz até 11 de agosto de 2013.


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