São Paulo, segunda-feira, 01 de fevereiro de 2010

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Maquiagem do antigo Egito é tóxica, porém curativa

Por SINDYA N. BHANOO

A elaborada maquiagem usada nos olhos pela rainha Nefertiti e por outros antigos egípcios teria poderes curativos, capaz de atrair a proteção dos deuses Horus e Ra e evitar doenças.
A maquiagem com base de chumbo usada pelos egípcios tinha propriedades antibacterianas que ajudavam a evitar infecções comuns na época, segundo um relatório publicado em 15 de janeiro na revista quinzenal "Analytical Chemistry", da Sociedade Americana de Química.
"Foi surpreendente; eles haviam construído uma sociedade forte e rica, então não eram loucos", disse Christian Amatore, químico da École Normale Supérieure em Paris e um dos autores do trabalho. "Mas acreditavam que essa maquiagem fosse curativa -diziam encantamentos enquanto a preparavam, coisas que hoje consideramos bobagem."
Amatore e seus colegas usaram microscopia eletrônica e difração de raios-X para analisar 42 amostras de recipientes de maquiagem egípcia preservados no Louvre. Eles descobriram que a maquiagem era basicamente feita da mistura de quatro substâncias baseadas em chumbo: galena, que produzia tons escuros e brilho, e os materiais brancos cerusita, laurionita e fosgenita. Os pesquisadores não conseguiram determinar que porcentagem de chumbo continha a maquiagem.
Os egípcios consideravam a maquiagem uma coisa mágica, e não medicinal, disse Amatore. No antigo Egito, durante os períodos de enchente do Nilo, os egípcios tinham infecções causadas por partículas que entravam nos olhos e produziam doenças e inflamações. Os cientistas afirmam que a maquiagem com base de chumbo funcionava como uma toxina, matando as bactérias antes que elas se espalhassem.
Mas, enquanto sua pesquisa fornece uma visão fascinante de uma cultura antiga, os cientistas dizem que essa maquiagem não é algo que deva ser usado hoje. Amatore diz que a toxicidade das substâncias de chumbo superava os benefícios e que houve muitos casos documentados de intoxicação em consequência do chumbo nas pinturas e nos encanamentos do século 20.
Neal Langerman, químico, físico e presidente da Advanced Chemical Safety, consultoria de proteção ambiental e segurança para a saúde, disse: "Você provavelmente não vai querer fazer isso em casa, especialmente se tiver um filho pequeno ou um cachorro que goste de lambê-lo".
No entanto, diz Langerman, faz sentido que os egípcios fossem atraídos para essas substâncias. "Chumbo e arsênico, entre outros metais, dão belos pigmentos coloridos", disse.
A questão do chumbo na maquiagem continua sendo discutida na indústria de cosméticos, especialmente em relação às pequenas quantidades da substância encontradas em alguns batons.
"É a dose que faz o veneno", disse Langerman, parafraseando o físico do Renascimento Paracelso. "Uma dose baixa mata a bactéria. Em dose alta, você está absorvendo demais."


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