São Paulo, segunda-feira, 01 de agosto de 2011

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Playground ensina às crianças como se vive

Por JOHN TIERNEY
Gangorras e escorregadores altos desapareceram dos parques urbanos dos EUA na década de 1990, quando os equipamentos de playgrounds foram avaliados como perigosos. Agora, pesquisadores questionam o valor dos playgrounds que priorizam a segurança. Os críticos dizem que esses playgrounds podem atrofiar o desenvolvimento emocional das crianças.
"As crianças precisam topar com riscos e superar seus medos no playground", disse Ellen Sandseter, professora de psicologia na Universidade Rainha Maud, na Noruega. "Trepa-trepas e escorregadores altos são ótimos. Na medida em que os parquinhos infantis vão se tornando lugares mais entediantes, essas ainda são algumas das poucas coisas que podem proporcionar às crianças experiências emocionantes com a altura e a velocidade."
Observando crianças em playgrounds da Noruega, Inglaterra e Austrália, Sandseter identificou seis categorias de brincadeiras de risco: as que envolvem altura, velocidade, ferramentas perigosas, elementos perigosos, brincadeiras brutais e brincadeiras longe da supervisão adulta. O elemento mais comum é a altura.
"O melhor é deixar as crianças entrarem em contato com esses desafios, e, então, elas aprenderão progressivamente a controlá-los, através do brincar, ao longo dos anos", disse ela.
As quedas são o tipo de acidente mais comum em playgrounds, mas raramente causam danos permanentes. E estudos mostram que uma criança que se machuca em uma queda sofrida antes dos nove anos tem menos chance de ter medo de altura quando chegar à adolescência.
Sandseter e Leif Kennair, psicólogo da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega, disseram que as crianças empregam as mesmas técnicas de habituação desenvolvidas por terapeutas para ajudar adultos a dominar suas fobias.
"As brincadeiras de risco espelham a terapia comportamental cognitiva para problemas de ansiedade", eles escrevem no periódico "Evolutionary Psychology". Enquanto um prazer infantil em explorar lugares altos pode não parecer adaptativo -afinal, por que a seleção natural favoreceria crianças que correm risco de morte antes de terem tido a chance de se reproduzirem?-, os perigos parecem ser menos importantes do que os benefícios da superação do medo.
"Postulamos que nosso receio de que as crianças sejam prejudicadas por machucados que, em sua maioria, são inofensivos, pode resultar em crianças mais temerosas e em níveis aumentados de psicopatologia", escrevem os psicólogos.
Os brinquedos antigos sumiram dos playgrounds graças a receios dos pais, novos padrões de segurança e o medo de ações judiciais. Mas alguns questionam o valor dos brinquedos "mais seguros".
"Não existem evidências claras de que as medidas de segurança tomadas nos playgrounds tenham reduzido os riscos médios desses lugares", disse David Ball, professor de administração de riscos na Universidade Middlesex, em Londres.
Adrian Benepe, comissário dos parques de Nova York, disse que têm surgido alternativas mais criativas aos equipamentos ultrasseguros. "Devido às limitações de altura, ninguém mais constrói os trepa-trepas, mas as crianças podem escalar paredes, pedras artificiais e redes de cordas", disse ele.
Mesmo assim, não há nada como a sensação de estar a três metros acima do chão, descobriu Nayelis Serrano, 10, de South Bronx, quando subiu em um trepa-trepa antigo do parque Fort Tryon, em Nova York, que foi poupado nos anos 1990.
"No começo, fiquei assustada", contou. "Mas minha mãe falou 'se você não tentar, nunca vai saber se é capaz'. Então, eu fui e, quando atingi o alto, senti muito orgulho de mim."
E sua mãe a apoiou. "É divertido", disse Orkidia Rojas. "Por que não? É um pouco perigoso, eu sei, mas, se você ficar pensando apenas no perigo, nunca vai avançar na vida."


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