São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA: GADGETS

Bebês disputam iPhone dos pais

Há quem veja benefícios para as crianças

Por HILARY STOUT
Assim como os adultos têm dificuldade para deixar o iPhone de lado, o aparelho também virou o brinquedo preferido de muitos bebês de um a três anos.
É um fenômeno que já atrai a atenção dos especialistas em puericultura.
Natasha Sykes, mãe de duas crianças, lembra-se da primeira vez que a filha, Kelsey, então com pouco mais de dois anos, pegou o iPhone do marido dela. "Ela apertou o botão e a coisa acendeu. Eu me lembro dos olhos dela. Era tipo 'uau!'."
Os pais ficaram encantados com o fascínio da filha. Mas aí, disse Sykes, Kelsey "começou a levar o telefone a sério". Ela pedia o iPhone o tempo todo. Chorava por ele.
Brady Hotz, que fez dois anos em outubro, estava dando trabalho para sair da casa da família, perto de Chicago. Sua mãe, Kellie, tinha pressa, mas Brady não arredava. "Mickey!", dizia ele queixosamente.
"Mickey!" (tradução: não vou a lugar algum até que me deixem ver "Mickey Mouse Clubhouse" na TV).
Hotz, veterana nesse tipo de impasse, recorreu imediatamente à sua "ferramenta de sucesso garantido", como ela diz. "Que tal o Mickey no celular?", sugeriu. Bastou acessar o programa (via YouTube), e, num instante, a criança, agora em total cooperação, estava instalada no carro.
A Apple, que fabrica o iPhone, construiu seu sucesso a partir de máquinas tão simples e intuitivas que até adultos tecnologicamente limitados podem entendê-las, então faz sentido que crianças sofisticadas também consigam. Basta tocar numa imagem na tela, e algo acontece. Dá para ser mais divertido?
Muitos aplicativos do iPhone se destinam ao público pré-escolar, e vários têm a etiqueta de "educativo", como o "Toddler Teasers: Shapes", que convida a criança a identificar círculos, quadrados ou triângulos; ou o "Pocket Zoo", que exibe imagens ao vivo de animais em zoológicos do mundo todo. Há "cartões didáticos" para ajudar na alfabetização e o aplicativo "Wheels on the Bus", em que essa música é cantada em várias línguas. E o novo "iGo Potty" lembra a criança de que é hora de ir para o "troninho".
Além do medo de que as crianças deixem o aparelho cair e quebrar, muitos pais também experimentam um sentimento de culpa ao emprestarem seus iPhones.
Eles se perguntam se é de fato uma ferramenta educativa, ou só uma diversão passiva, como a TV. A Academia Americana de Pediatria, há muito tempo, aconselha os pais a não exporem bebês à TV antes dos dois anos.
Gwenn Schurgin O'Keeffe, integrante do conselho de comunicações e mídia da academia, disse que o grupo reavalia continuamente as suas orientações.
"Sempre tentamos incluir as mais recentes tecnologias, mas a indústria dos celulares está ficando tão complexa que sempre voltamos à mesa e nos perguntamos se deveríamos ter uma diretriz específica para celulares", afirmou a pediatra.
Mas, acrescentou, "no momento aparentemente sentimos que eles são iguais à TV".
Jill Mikols Etesse, mãe de dois filhos e moradora nos arredores de Washington, acredita que sua filha mais nova está mais avançada em termos de vocabulário, leitura e soletração do que sua filha mais velha estava aos três anos de idade, e atribui esse progresso ao iPhone e ao iPad.
A menina já aprendeu a soletrar expressões como "luz das estrelas" e "fogos de artifício" por meio de um aplicativo chamado Montessori Crossword, disse a mãe.
Mas para a psicóloga da educação Jane Healy, de Vail, Colorado, "qualquer pai que achar que um programa de soletração é educativo para essa idade não está entendendo nada de como o cérebro de uma criança pré-escolar cresce". "O que as crianças precisam nessa idade é de movimentação do corpo inteiro, manipulação de muitos objetos, e não de alguma tecnologia opaca", afirmou. "Você não aprende a ler enfileirando as letras na palavra 'gato', você aprende a ler entendendo a linguagem, ouvindo."
Tovah Klein, diretora do Centro para o Desenvolvimento dos Bebês do Barnard College, na Universidade Columbia, em Nova York (onde avisos proíbem o uso de celulares e outros dispositivos móveis), teme que a fixação da criança na tela do iPhone toda vez que ela sai com os pais limite sua capacidade de experimentar um mundo mais amplo.
"Crianças dessa idade são muito curiosas e estão observando tudo", afirmou.
"Se você está absorto nessa tela, você não está vendo, observando nem aprendendo."


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