São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O GOVERNO OBAMA

Para Biden, a função de conselheiro

Por HELENE COOPER

WASHINGTON - Barack Obama vem agindo rápido para montar sua equipe de assessores e formar seu gabinete, mas está atrasado até mesmo em relação ao crônico retardatário presidente Bill Clinton quando se trata de definir com clareza o papel que seu vice, Joe Biden, deve exercer.
Nenhuma pasta específica foi confiada a Biden até agora, como a do meio ambiente e da tecnologia foi entregue a Al Gore em 1992. E os assessores de Obama dizem que não prevêem que Biden assuma o tipo de papel forte que o vice-presidente Dick Cheney exerceu nos últimos oito anos.
"Tenho certeza de que haverá tarefas diferentes confiadas a ele com o passar do tempo", disse David Axelrod, assessor sênior do presidente eleito. "Mas acho que seu papel fundamental é o de conselheiro que goza da confiança do presidente eleito. Acho que, quando Obama o escolheu, o selecionou para ser seu conselheiro e assessor para uma grande gama de questões."
Biden parece estar se adaptando. Ele está contratando funcionários para seu gabinete, incluindo um chefe-de-gabinete, Ron Klain, que trabalha com ele desde que o atual vice-presidente eleito presidia a Comissão de Justiça do Senado, na década de 1990. Com Obama tendo definido o nome da senadora Hillary Clinton para secretária de Estado, Biden, cujo cargo mais recente no Senado foi o de presidente da Comissão de Relações Exteriores, vem dizendo a algumas pessoas, reservadamente, que reconhece que não será a voz principal na área da política externa.
Biden também vem entrevistando candidatos a economista-chefe, e pessoas ligadas a ele dizem que ele vem aperfeiçoando suas credenciais econômicas.
Biden vem mantendo seus contatos com líderes de outros países; recentemente telefonou aos três principais candidatos ao cargo de primeiro-ministro de Israel, Tzipi Livni, Binyamin Netanyahu e Ehud Barak. Ele também entrou em contato com o presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, com o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, e com Javier Solana, chefe de política externa da União Européia.
Biden vem passando a maior parte da semana em Chicago, onde se hospeda num hotel e almoça com Obama uma vez por semana. Durante o dia, Biden, Obama e uma série de assessores ficam nos escritórios de transição da equipe, estudando nomes de possíveis contratados. Biden vem se envolvendo em decisões políticas e do gabinete, disseram assessores, oferecendo conselhos ao presidente eleito.
Os assessores de Obama dizem que Biden apoiou a nomeação de Hillary para chefiar o Departamento de Estado. "Se ele tivesse apresentado argumentos contrários, estes teriam tido muito peso", comentou um assessor sênior da transição. "Ele foi totalmente a favor."
A ausência de especificidade forma um contraste com o papel mais claramente definido de Al Gore. Dias depois da eleição de Clinton em 1992, assessores do então presidente eleito anunciaram que Gore comandaria uma iniciativa ampla sobre ciência e tecnologia, assinalando o que prometiam que seria uma nova era na qual o foco do governo sobre a produção de armamentos seria deslocado para o incentivo a novas tecnologias e indústrias civis.
No início de dezembro de 1992, antes mesmo de Clinton ter definido nomes para seu gabinete, Gore já se manifestava sobre o meio ambiente, divulgando um comunicado em que pedia investigações sobre um incinerador de detritos perigosos, e assinalava que a administração pretendia aplicar as leis ambientais com firmeza. Em entrevista de 8 de dezembro de 1992, Clinton disse que Gore teria "certas responsabilidades específicas além e acima" de um papel de conselheiro geral, incluindo "fazer lobby no Congresso por nosso programa, especialmente na área da saúde, lidando com questões relacionadas ao ambiente e à tecnologia".
Quanto ao relacionamento entre Obama e Biden, assessores de ambos insistem que é forte e que cada um deles está se adaptando a seu novo papel.
"Acho que não existe risco algum de o vice-presidente eleito ser marginalizado, independentemente de quem mais estiver no gabinete", comentou uma assessora sênior de Obama, Valerie Jarrett. "Independentemente dos nomes selecionados, haverá muitos talentos em volta da mesa."
Jarrett caracterizou o relacionamento entre Obama e Biden como "caloroso e respeitoso".
As esposas dos candidatos, Michelle Obama e Jill Biden, teriam se dado bem de imediato, assim que se conheceram.
Assessores dizem que, em encontros reservados, Biden e Obama às vezes brincam um com o outro e afirmam que Obama não se irritou demais com Biden pela gafe que este cometeu ao prever que o presidente eleito será testado por uma crise mundial em seus primeiros seis meses no cargo.
Desde essa gafe, porém, Biden não tem falado muito com a imprensa. Por meio de uma porta-voz, ele negou-se a ser entrevistado para esta reportagem - o que, por si só, já representa uma quebra em relação a seu passado loquaz.


Texto Anterior: Inteligência: Sobrevivendo aos mercados bipolares
Próximo Texto: De rival a principal assessora: o degelo Hillary-Obama
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.