São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2008

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Concreto feito de lixo polui menos

Por ALEC APPELBAUM

O concreto é usado desde os aquedutos da Roma Antiga, e os engenheiros adoram esse material por sua resistência a terremotos e por sua versatilidade.
Mas o aumento da demanda pelo concreto, especialmente devido ao crescimento urbano na Ásia, gera custos ambientais cada vez mais difíceis de ignorar. "É um material muito sujo. A baixa qualidade do ar que observamos na China durante a Olimpíada deriva da construção com concreto", disse o arquiteto Tim Christ.
É que a produção de uma tonelada de cimento Portland, o ingrediente adesivo mais comum no concreto, libera quase uma tonelada de gases do efeito estufa. A melhor forma de reduzir essa emissão é trocar parte do cimento Portland por material reciclado. As cinzas do carvão usado nas usinas termoelétricas e os resíduos que restam em altos-fornos são os substitutos mais fáceis de encontrar - e tendem a tornar o concreto mais valioso do que só com o cimento Portland.
Grandes fábricas de concreto, como a francesa Lafarge, e especialistas independentes já possuem e administram estoques de cinza e resíduo.
O governo dos EUA esteve entre os primeiros a testar a nova técnica, ao encomendar em 2001 um prédio público de San Francisco à empresa Morphosis, que pertence a Christ e é dirigida pelo arquiteto Thom Mayne. "Propusemos que a escória substituísse 50% [do cimento], sendo que o comum era 15%", contou Christ sobre a obra, concluída em 2007.
O processo já ganhara credibilidade na Costa Leste. Em 1999, a Durst Organization, inaugurava na Times Square, em Nova York, o Edifício Condé Nast, vitrine de técnicas ambientalmente responsáveis, lembra Jody Durst, co-presidente da empresa. Para isso, a incorporadora especificou que haveria cinza de carvão nas colunas do prédio. O material segurou tão bem a estrutura que Durst também usou escória no Helena, uma torre de 600 apartamentos em Manhattan.
"Acho que pagamos um ágio, mas ao final da obra o cliente estava satisfeito. As propriedades de resistência eram superiores", disse Durst. O uso da escória e das cinzas no concreto se tornou um procedimento-padrão da construtora.
Novas pesquisas sobre o custo ambiental do concreto devem trazer mais mudanças para o setor nos próximos dez anos. Mesmo que o cimento com cinzas e escória se torne universal, o concreto continuará cobrando um pesado ônus ambiental, segundo o engenheiro Christian Meyer, professor de engenharia civil na Universidade Columbia, porque até três quartos do seu volume é composto por agregados de areia e pedras, cuja produção consome muita energia. Substituí-los por materiais recicláveis será o próximo desafio.


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