São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2009

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Para salvar bancos, a Suécia os controlou

Por CARTER DOUGHERTY

Os suecos têm uma simples mensagem a dar ao mundo: nacionalizem.
Autoridades nos EUA estudam como reforçar bancos americanos, que se enfraquecem a cada dia, apesar de já terem recebido centenas de bilhões de dólares em ajuda governamental.
No início da década de 1990, quando os bancos suecos efetivamente faliram, o governo de centro-direita arquitetou uma recuperação rápida do setor, que levou os contribuintes a ganhar dinheiro no longo prazo.
Ex-funcionários governamentais da Suécia dizem que a única maneira de solucionar a crise financeira é que o governo assuma a posse integral dos bancos por um período interino.
A Suécia colocou os bancos com ativos podres num chamado "banco podre", onde podiam ser mantidos e então vendidos à medida que as condições fossem melhorando. Enquanto isso, o país usou dinheiro dos contribuintes para fornecer capital, para que os bancos pudessem voltar a conceder empréstimos. No processo, o país eliminou os acionistas existentes.
Contrastando com isso, disse Bo Lundgren, que foi ministro das Finanças durante a tomada dos bancos suecos, o que o governo dos EUA vem fazendo até agora é socorrer os bancos sem receber grandes participações acionárias neles em troca. “Se você entra com capital, você deve ter direitos plenos de voto”, disse Lundgren, que se descreveu como defensor maior do livre mercado do que alguns republicanos.
É verdade que os EUA têm uma economia muito maior que a sueca e que a Suécia não enfrentava uma recessão global na época. Mesmo assim, muitos analistas acham que Estocolmo tem lições a ensinar a Washington.
Depois de meses recapitalizando os bancos americanos sem controlá-los, os EUA estudam a possibilidade de criar seu próprio "banco podre". A queda vertiginosa no valor das ações vem atingindo fortemente os acionistas bancários. Mas até agora o governo evitou adquirir ações, para não diluir o valor em mãos dos acionistas.
Os medos suscitados pela nacionalização são muitos. Céticos temem que ela possa ser cara ou complicada demais, e, ainda, que o governo não administre os bancos com competência. Lundgren disse que os custos da nacionalização precisam ser relativizados e que a simples ameaça de nacionalização, na década de 1990, incentivou banqueiros suecos a buscar soluções criativas aos problemas.
Um banco, o SEB, arquitetou uma recapitalização privada e colocou ativos problemáticos num banco podre próprio. O Nordbanken, que crescera rapidamente no final dos anos 1980, passou integralmente ao controle do governo porque suas perdas eram muito grandes. Hoje é o Nordea, um banco regional gigante.
A Securum, instituição que se tornou o repositório de ativos podres da Suécia, foi capitalizada com 24 bilhões de coroas (R$ 7 bilhões), valor do orçamento militar do país naquela época. Um estudo concluiu que a Securum acabou devolvendo ao Tesouro sueco cerca de 58% daquele custo.
Para fazer a Securum funcionar, o Estado precisou tornar-se especialista em indústrias tão diversas quanto química, biotecnológia e, como certamente seria o caso nos EUA, imobiliária. Bens imobiliários de Estocolmo a Atlanta e Londres tinham sido usados como garantia de empréstimos e ocupavam 70% do portfólio da Securum. Lars Thunell, ex-executivo-chefe da Securum, contou que o governo contratou especialistas em fusões e aquisições e no setor imobiliário. Com a recuperação da economia, os ativos acabaram se mostrando não tão problemáticos.
Como a economia global enfrenta sua pior queda em décadas, nada garante que os EUA teriam resultados tão bons.
Uma crítica a ser feita à Suécia é que o país poderia ter obtido retornos ainda melhores se a Securum tivesse ficado com seus ativos por mais tempo. Quando criou a empresa, em 1993, o governo previa que ela duraria 15 anos. Mas foi fechada quatro anos mais tarde.


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