São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Criador de sucessos da salsa é homenageado

Por LARRY ROHTER

Catalino Curet Alonso nunca deixou seu emprego convencional, tendo trabalhado por mais de 30 anos nos Correios de Porto Rico. Nos estúdios de gravação, porém, os maiores nomes da salsa, desde Willie Colón e Héctor Lavoe até Célia Cruz e La Lupe, demonstravam respeito enorme pelo homem apelidado de Tite, que compôs sucessos para todos eles.
"Tite foi El Maestro. Foi a essência do que chamamos de salsa -ou seja, a música antilhana ou caribenha", disse o cantor Cheo Feliciano, cuja carreira renasceu de sua ligação com Curet, em 1970, e que acabaria por gravar 45 canções deste. "Ele não tocava piano e só conhecia dois ou três acordes no violão. Mas era uma fonte inesgotável de expressão que sabia compor canções sob medida para o estilo de cada intérprete, como um alfaiate faz um terno sob medida para o freguês."
Pouco mais de cinco anos após a morte de Curet, aos 77 anos, o interesse por sua música vem renascendo. Quando, recentemente, a Fania Records lançou "Alma de Poeta", um CD duplo com as versões originais de 31 de suas composições mais populares, o álbum entrou para a parada de música latina da Billboard na quinta posição e imediatamente se tornou o mais vendido em Porto Rico.
Em janeiro, foi anunciado um acordo para pôr fim a uma complicada disputa legal sobre direitos de apresentação. Desde meados da década de 1990, a disputa não apenas impediu que centenas das canções mais conhecidas de Curet fossem tocadas nas rádios, como desencorajava salseiros a gravar suas composições ou tocá-las em shows. Graças ao acordo, composições de Curet como "Anacaona" e "Periódico de Ayer" (Jornal de Ontem) estão no ar novamente, animando pistas de dança caribenhas.
"Ele é o mais prolífico e, em certo sentido, o mais importante compositor de música tropical, então achamos que ele merecia um pacote como este, especialmente porque sua música esteve tão ausente", comentou Giora Breil, executiva-chefe da Fania, que ajudou a organizar o álbum. "É como tentar imaginar o Reino Unido passando 14 anos sem a música dos Beatles."
Curet trabalhou em virtual anonimato para criar os sucessos que converteram os cantores da gravadora em astros internacionais.
Embora fosse apenas adolescente quando começou a compor, foi só em idade relativamente avançada que ele conseguiu começar a ganhar a vida com sua arte. Ele já tinha mais de 40 anos quando teve seu primeiro grande sucesso, "La Tirana", com La Lupe.
Uma característica que distinguia suas composições das canções mais comuns de salsa era sua disposição em tratar de problemas sociais e políticos. Como disse em entrevista telefônica o cantor, compositor, ator e político panamenho Rubén Blades, "Tite escreveu canções voltadas não apenas aos pés dos ouvintes, mas a suas cabeças".
A canção mais conhecida de Curet é provavelmente "Anacaona", sobre uma princesa indígena morta pelos conquistadores espanhóis na atual República Dominicana. "Juan Albañil" fala de um pedreiro pobre demais para entrar nos hotéis de luxo que ajudou a construir; "Galera Tres" protesta contra a violência e os abusos nas prisões, e "Estampa Marina" fala da vida difícil dos pescadores.
Em canções como "Las Caras Lindas (de Mi Gente Negra)", Curet deu mostras de forte consciência e orgulho negros, mais ou menos como James Brown estava fazendo na época nos Estados Unidos, e Gilberto Gil, no Brasil.
"Isso não era normal na época em que ele começou a fazê-lo, mas Tite sempre falou do que significa ser negro e teve a coragem de dizer que sentia orgulho em ser quem era", disse Feliciano.
Embora nunca tenha recebido muito dinheiro dos direitos autorais das dezenas de sucessos que compôs, Curet não desanimou. Quando morreu, estava trabalhando em uma ópera para crianças que seria intitulada "O Sino no Fundo do Mar", em parceria com Rubén Blades.
"Aquele homem adorava a música, a cultura, as palavras e as ideias e adorava também falar sobre tudo isso", comentou Blades. "Ele era excepcional de todas as maneiras."


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