São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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Austrália busca um vasto novo mercado para seu animal

Por MATT SIEGEL

SYDNEY - Chega a ser surpreendente ouvir John Kelly, com sotaque caipira australiano, usar termo culinário chinês.
"Os chineses têm uma forte tradição culinária no uso de alimentos silvestres, não só a carne, mas uma grande variedade de alimentos selvagens chamados 'yaemei' em cantonês e 'yewei' em mandarim", disse Kelly, diretor-executivo da Associação Australiana da Indústria do Canguru. "O canguru vai, em grande medida, se encaixar perfeitamente nessa tradição, da mesma forma como ocorreu nos mercados europeus." Ou assim ele espera.
A demanda chinesa por recursos como minério de ferro e carvão ajudou a manter o crescimento econômico australiano durante a crise global. Agora, pessoas como Kelly torcem para que o apetite chinês reaviva o setor australiano da carne de canguru, que enfrenta dificuldades desde que a Rússia proibiu a importação, em 2009. Dentro da Austrália, a carne de canguru sempre foi mau negócio, seja porque o animal é símbolo nacional, e ativistas dos direitos dos animais se opõem ao abate, ou por causa do sabor acentuado e rústico. Exportar era a melhor oportunidade para o setor.
Ainda em 2008, as vendas totalizaram 9.080 toneladas, num valor de US$ 38,4 milhões, segundo estatísticas do governo. A Rússia representava pelo menos 58% desse mercado, até que contaminação por E. coli vinculada ao produto, em agosto de 2009, levou Moscou a proibir a importação. As exportações australianas de canguru despencaram então para 2.650 toneladas em 2010.
A carne para consumo humano representa cerca de 80% das exportações de canguru, que incluem ração para animais domésticos e pele para vestuário.
Por isso, a entidade dirigida por Kelly está de olho na China, que, em dezembro, enviou delegação oficial à Austrália para investigar as condições sanitárias de produção. "Esperamos ver os chineses apreciando a carne de canguru em breve", disse Fang Xi, adido econômico na Embaixada da China em Canberra.
Grupos como a Sociedade Australiana para os Cangurus dizem que, além de serem impróprios ao consumo humano, os animais correm o risco de serem extintos pela caça. Mas há pelo menos 25 milhões de cangurus nas áreas de coleta comercial -mais do que os 23 milhões de habitantes da Austrália-, o que parece desmerecer os alertas sobre a extinção iminente. Muitas vezes, os cangurus são considerados uma praga, responsáveis por problemas como a erosão do solo e acidentes rodoviários noturnos. Kelly, enquanto isso, se delicia com a possibilidade de exportar cangurus para aquele que é potencialmente o maior mercado do mundo.
"Eu espero que estejamos colocando o produto na China em algum momento ainda neste ano", afirmou ele, acrescentando a informação de que a China pode vir a se tornar "um mercado maior do que a Rússia".


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