São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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Segredo que envolve o desenho Pica-pau

Por MICHAEL CIEPLY

LOS ANGELES - Tom Klein estava assistindo a um desenho animado do Pica-pau, "The Loose Nut", 16 anos atrás, quando começou a enxergar coisas a mais.
Klein assistiu ao pica-pau maníaco bater rolo compressor contra a porta de galpão. Então, a tela explodiu em imagens que não se pareciam tanto com uma animação de Walter Lantz quanto com algo que Willen de Kooning poderia ter pendurado sobre uma parede.
"O que foi isso?", Klein -hoje professor de animação na Universidade Loyola Marymount, em Los Angeles- se recorda de ter pensado. Foi apenas mais tarde, após anos de trabalho de investigação acadêmica, que ele decidiu que o que havia visto era arte genuína escondida com inteligência por um diretor de animação ambicioso e frustrado chamado Shamus Culhane. Culhane morreu em 1996; foi um pioneiro cujas seis décadas passadas trabalhando com animação incluíram a sequência dos anões marchando e cantando "Eu vou, eu vou, para casa agora eu vou" no filme de 1937 "Branca de Neve e os Sete Anões".
Na edição de março de "Animation: an Interdisciplinary Journal", Klein apresenta uma teoria intrigante. Ele diz que Culhane rompeu as fronteiras de sua especialidade quando trabalhou nos desenhos do Pica-pau, na década de 1940, inserindo neles alguns filmes de arte ultracurtos.
"Culhane 'escondeu' suas excursões artísticas em plena vista, deixando que passassem rapidamente demais para serem notadas pela maior parte de seu público", escreve Klein no artigo "Woody Abstracted: Film Experiments in the Cartoons of Shamus Culhane" (pica-pau abstraído: experimentos cinematográficos nos desenhos de Shamus Culhane).
Klein descreve Culhane -que, em seus trabalhos da época, aparecia nos créditos com o nome de James Culhane- como devoto da vanguarda. Ele foi influenciado pelos escritos de teóricos russos como Sergei Eisenstein e Vsevolod Pudovkin e passou noites na Galeria Contemporânea Americana, em Hollywood. Assistia a filmes de Fritz Lang e Jean Renoir, pode ter visto pinturas de Oskar Fischinger e, definitivamente, "tendia a usar uma boina".
Em "Woody Dines Out", de 1945, há um trecho de dois segundos mostrando uma explosão que Culhane, em sua autobiografia, "Talking Animals and Other People" (animais falantes e outras pessoas), admitiu ter sido um momento inspirado em Eisenstein, escreveu Klein.
A mais longa sequência experimental desse tipo foi a da colisão do rolo compressor em "The Loose Nut", também de 1945, que dura sete segundos. Ao longo da década de 1940, Culhane criou animações, por um período curto na Warner Brothers e, depois, no estúdio do criador do Pica-pau, Lantz.
Em 1944, ele colaborou com o artista de layouts Art Heinemann em "The Greatest Man in Siam". No filme, o Homem mais Veloz do Sião passa correndo por portas de formato distintamente fálico e olha dentro de outra que imita uma vagina. Pouco antes de morrer, Culhane revelou: "Queríamos apenas pregar uma peça neles".


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