São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2010

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Aprender com o fracasso

WILLIAM J. BROAD
ENSAIO

Os desastres ensinam mais que os êxitos.
Essa ideia pode soar paradoxal, mas é aceita por engenheiros. Estes dizem que as lições amargas surgem porque as razões do sucesso em questões tecnológicas muitas vezes são arbitrárias e invisíveis, sendo que a causa de um fracasso específico com frequência pode ser identificada, documentada e estudada para que se possam buscar aperfeiçoamentos.
Ou seja, desastres podem servir de incentivo à inovação.
Não há dúvida de que, ao longo dos séculos, o processo de construção de máquinas e indústrias pelo método de tentativa e erro já resultou em muito sangue e milhares de vidas perdidas. Os fracassos, às vezes terríveis, são inevitáveis, e engenheiros dizem que vale a pena tirar bom proveito deles para evitar erros futuros.
O resultado disso é que as façanhas tecnológicas que definem o mundo moderno às vezes são fruto de acontecimentos que alguns gostariam de esquecer.
"[O fracasso] é uma grande fonte de conhecimento, algo que nos impõe humildade e que às vezes é necessário", disse Henry Petroski, historiador da engenharia na Universidade Duke e autor de "Success Through Failure". "Ninguém deseja fracassos. Mas tampouco é o caso de se desperdiçar uma boa crise."
Agora, dizem especialistas, esse tipo de análise provavelmente levará ao aprimoramento dos equipamentos e procedimentos complexos empregados por empresas para extrair petróleo em águas cada vez mais profundas.
Eles afirmam que a falha catastrófica de 20 de abril no golfo do México -que causou 11 mortes e desencadeou o pior vazamento marítimo de óleo da história dos EUA- incentivará avanços.
"A indústria petrolífera sabe que isso não pode voltar a acontecer", disse David W. Fowler, professor da Universidade do Texas, em Austin, que ministra um curso de engenharia forense.
Em Londres, em 22 de junho, no Congresso Mundial de Companhias Petrolíferas Nacionais, manifestantes do Greenpeace interromperam o discurso de um representante da BP, a empresa que perfurou o poço causador do vazamento. Antes de ser retirado do recinto, um manifestante gritou que a responsabilidade planetária "implica em acabar com as perfurações perigosas".
A história da tecnologia sugere que esse fim é improvável. Equipamentos podem se tornar malvistos, mas raramente ou nunca são abolidos de forma planejada. Em lugar de pôr fim às aeronaves rígidas, a explosão do dirigível Hindenburg demonstrou os perigos do uso de hidrogênio como gás para elevar balões e resultou em uma ênfase nova no uso do hélio, que não é inflamável. E a engenharia é, por definição, uma profissão de resolução de problemas.
Analistas dizem que o impulso construtor, e seu provável resultado para a exploração petrolífera em águas profundas, levará, por meio da análise do fracasso ocorrido, a inovações que aumentarão a segurança dos poços, sejam quais forem os méritos de se reduzir a dependência humana do petróleo. Para eles, o desastre da BP acabará por inspirar avanços tecnológicos.
Do naufrágio do Titanic ao derretimento do reator de Tchernobil, em 1986, do desabamento da ponte Tacoma Narrows, em Washington, em 1940, à queda do World Trade Center, em 2001 -todos esses incidentes forçaram engenheiros a buscar soluções de falhas.
Engenheiros de design dizem que, com frequência, a natureza de seu ofício é voar no escuro.
O engenheiro britânico Eric J. Brown, que desenvolveu aeronaves na Segunda Guerra Mundial, debateu o problema com franqueza. Em livro de 1967, descreveu a engenharia estrutural como "a arte de moldar materiais que não compreendemos realmente em formas que não podemos analisar realmente, para que resistam a forças que não podemos avaliar realmente, de maneira que o público não imagina realmente".
Em "Success Through Failure", Henry Petroski, da Universidade Duke, chamou atenção ao corolário inovador. Os fracassos, disse, "com frequência levam obras a serem redesenhadas, conduzindo a coisas novas e aprimoradas".


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