São Paulo, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DU DAOZHENG

Idoso liberal enfrenta censores na China

Por SHARON LaFRANIERE
e JONATHAN ANSFIELD

PEQUIM - Há quase 20 anos, o Partido Comunista chinês tenta apagar da memória nacional Zhao Ziyang, secretário do partido de mentalidade reformista que se opôs ao uso da força contra os manifestantes pró-democracia em 1989.
Por isso, quando um ex-assessor de Zhao, Du Daozheng, revelou em maio que havia ajudado a registrar secretamente as memórias de Zhao para publicação póstuma, a filha de Du se recusou a deixá-lo sair sozinho por medo de possíveis repercussões.
Ela não precisava ter-se preocupado. Em 25 de junho, uma autoridade graduada encarregada da propaganda foi ao apartamento de Du em Pequim com uma mensagem tranquilizadora de Zhongnanhai, a sede do Partido Comunista e do governo. Segundo Du, disseram-lhe que, como um velho amigo de Zhao, "o Zhongnanhai e a central do partido podem compreender por que você fez isso".
Até ser demitido, em 1989, com Zhao, Du serviu como chefe do órgão de imprensa e publicações do governo, uma agência que ajuda a aplicar as ordens dos censores.
Hoje ele passa os dias lutando contra essas autoridades. Ajudar Zhao em sua memória -uma visão rara dos conflitos internos do partido- foi uma aventura especialmente ousada.
Mas incursões estratégicas em território proibido são características de sua revista acadêmica mensal, "Yanhuang Chunqiu". Depois que uma série de artigos da revista, no ano passado, se referiram às realizações de Zhao, autoridades do partido emitiram um regulamento interno que proíbe que autoridades aposentadas do partido dirijam publicações.
Du disse que contornou a ordem modificando os cargos. "Eu apenas a ignoro", disse. "Sou velho o suficiente e duro o suficiente para que, se houver alguma pressão do governo, eu consiga resistir."
Du considera sua revista, distribuída para cerca de 100 mil assinantes, "a melhor coisa que fez em sua vida", disse sua filha. Du sobrevive às escaramuças porque tem 86 anos, é esperto e tem o apoio silencioso de certos luminares do partido. Ele diz que até cem ex-autoridades do partido apoiam suas iniciativas, e outras tantas são simpatizantes. "Ninguém ousa fechá-la", disse.
Outros sugerem que o partido pode ser tolerante. Russell Leigh Moses, analista de política chinesa baseado em Pequim, disse que Du e outros "idosos" de mentalidade liberal não representam uma ameaça especial ao Partido Comunista hoje, por isso bastam reprimendas moderadas.
"Eu admiro a coragem e a convicção, mas os conservadores realmente ganharam essa batalha há algum tempo", ele disse.
Sempre um estrategista, Du recomendou que as memórias de Zhao sejam publicadas somente depois do 20? aniversário da repressão, em junho. Mas, com o apoio da família de Zhao, Bao Pu, filho do principal assessor de Zhao, organizou a publicação em maio de uma versão chinesa em Hong Kong e uma em inglês intitulada "Prisoner of the State: The Secret Journal of Premier Zhao Ziyang" (Prisioneiro de Estado: o diário secreto do premiê Zhao Ziyang).
As livrarias de Hong Kong já teriam vendido 100 mil exemplares. "Eu não vejo tanta excitação sobre um livro há muitos anos", disse Lam Mingkei, dono da Causeway Bay Bookstore, importante livraria de Hong Kong.
Du disse acreditar que os ideais democráticos expressos no livro de Zhao e nas páginas de sua amada revista um dia vão predominar.
Enquanto isso, ele diz, vai defender a função de sua publicação. "Meu pai sabe lutar", afirmou sua filha.


Texto Anterior: Cesar Millan: Encantador de cachorros faz fortuna nos EUA
Próximo Texto: Mohamed Aden: Forasteiro cria novas regras para a Somália
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.