São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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EUA começam a voltar às compras

Richard Perry/The New York Times
Vendas tiveram alta de 9,1% emmarço no varejo dos EUA; consumo dos americanos e aumento das exportações para economias mais saudáveis contribuem com expectativa de recuperação

Por PETER S. GOODMAN

Portland, Oregon
Após a pior crise desde a Grande Depressão, sinais de recuperação -ainda que um pouco ambíguos- crescem nos EUA, contribuindo com as esperanças no resto do mundo.
Apesar dos temores de que os consumidores da maior economia mundial passariam anos encolhidos -assustados com as dívidas, com a perda das suas poupanças e com o desemprego-, um surto consumista se esboça no lugar da frugalidade: as famílias trocam de carro, modernizam a mobília e adquirem aparelhos eletrônicos.
O cais voltou a fervilhar em Portland, cidade portuária no Pacífico, onde nuvens de poeira dourada se erguem das pilhas de grãos que jorram para dentro de gigantescos navios.
"As coisas estão melhorando", disse o estivador Dan Broadie. Sem precisar mais passar o tempo no sindicato à espera de trabalho, ele agora opera uma mangueira mecanizada que joga 40 mil toneladas de trigo no Arion SB, com destino às Filipinas.
Clientes disputam produtos eletrônicos e móveis, enquanto o medo do desemprego dá lugar à exuberância por causa da alta das ações. Carretas e trens levam crescentes quantidades de produtos pelos corredores de transportes, gerando renda para caminhoneiros e mecânicos.
No chão de fábrica, a produção se aquece, conforme dados oficiais divulgados em 23 de abril, mostrando um robusto aumento nas encomendas de bens industriais duráveis no mês de março.
Muitos economistas estimam que o gasto com consumo -que constitui cerca de 70% da atividade econômica americana- teve alta de 4% no primeiro trimestre, mais do que o dobro do ritmo previsto anteriormente. Alguns já elevaram suas estimativas de crescimento econômico para mais de 3% neste ano.
"Os consumidores estão mostrando uma extraordinária resiliência", disse Bernard Baumohl, economista-chefe global do Economic Outlook Group. "Há muita demanda reprimida por aí que agora está sendo liberada. Todo o sistema da cadeia de fornecimento está sendo revitalizado."
Embora poucos contestem os sinais de recuperação em grande parte da economia, permanece um debate sobre quão robusta e sustentável ela será. Os prolongados efeitos da crise financeira fazem alguns economistas preverem um longo período de crescimento oscilante.
Nos últimos meses, porém, várias notícias indicaram uma recuperação vigorosa. As empresas de tecnologia têm vendido mais. Após uma década de doloroso declínio, o setor industrial começa a recontratar.
As vendas nos estabelecimentos varejistas tiveram alta de 9,1% em março em relação ao ano anterior, segundo a Thomson Reuters, no sétimo mês consecutivo de crescimento. As exportações aumentaram quase 15% no primeiro bimestre, em relação a 2009, de acordo com o Departamento do Comércio.
O poder de consumo foi reforçado por uma redução monumental de quase US$ 600 bilhões nas dívidas familiares desde o segundo semestre de 2008, segundo dados de crédito da Equifax analisados pelo Economy.com. São cerca de US$ 6.300 por família.
Uma concessionária Porsche em Los Angeles aumentou suas vendas em cerca de 5% nas últimas semanas, tendência que o gerente Victor Ghassemi atribui a uma alta no valor das ações.
"As pessoas ficaram cansadas de se apegar ao dinheiro, ou de ficar sentadas em casa sem fazer nada", afirmou ele. "As pessoas adoram comprar. Você tira esse privilégio de alguém, e isso dura mais ou menos um ano.
Afinal, as pessoas querem voltar." A principal questão é se a explosão de consumo levará as empresas a contratar, agregando os salários necessários para ampliar o crescimento econômico. Otimistas sugerem que isso já está ocorrendo, citando o saldo de 162 mil postos de trabalho criados em março.
Robert Barbera, economista-chefe da empresa de pesquisa e comércio ITG, disse que as empresas "demitiram atabalhoadamente, porque temiam perder acesso ao crédito", e agora estão movidas por outro medo, que exige contratações: o de ficar de fora dos lucros do crescimento.
Ainda está por vir, acrescentou ele, uma onda de gastos das empresas americanas. "Elas estão abarrotadas de dinheiro. Estão em posição de ampliar seus gastos de forma generalizada."


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