São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Lixo vira energia limpa na Dinamarca

Por ELISABETH ROSENTHAL

HORSHOLM, Dinamarca - Os advogados e engenheiros que vivem num elegante bairro de Horsholm parecem em paz com seu vizinho desajeitado: uma grande usina energética que queima milhares de toneladas de lixo doméstico e industrial 24 horas por dia.
Bem mais limpo que os incineradores convencionais, esse novo tipo de usina transforma o lixo local em calor e eletricidade. Dezenas de filtros retêm poluentes, do mercúrio à dioxina, que há uma década sairiam pela chaminé.
Desde então, essas usinas se tornaram cruciais no tratamento do lixo e como fonte de combustível em toda a Dinamarca. Seu uso não só reduziu o gasto energético do país e sua dependência em relação ao gás e ao petróleo, como também beneficiou o meio ambiente, minimizando o uso de aterros sanitários e diminuindo as emissões de dióxido de carbono.
As usinas são tão limpas que, hoje em dia, muitas vezes há mais dioxina emitida em lareiras e churrasqueiras do que pela incineração de lixo. O país, de 5,5 milhões de habitantes, tem 29 usinas dessas, atendendo 98 municípios, e outras dez estão em fase de planejamento ou construção.
Em toda a Europa, há cerca de 400 usinas, sendo que Dinamarca, Alemanha e Holanda lideram a construção e ampliação delas.
Na Dinamarca, as usinas ficam nas comunidades às quais atendem, não importa quão ricas elas sejam, para que o calor da queima do lixo possa ser distribuído de modo eficiente pelo encanamento até as casas.
Os planejadores se empenham em separar o tráfego residencial dos caminhões que levam o lixo, e algumas das usinas mais novas ficam dentro de elaboradas "cascas" externas, semelhantes a esculturas.
"Novos compradores em geral não se importam com a usina", disse Hans Rast, presidente da associação de proprietários de imóveis de Horsholm. "O que eles gostam é que olham para fora e veem a floresta." (As salas de estar dão para campos e árvores, e a usina fica mais de 350 metros além de uma cerca traseira, que faz limite com as garagens das casas.)
O gasto menor com aquecimento também agrada. A queima do lixo gera 80% da calefação e 20% da eletricidade em Horsholm.
Muitos países que estão ampliando sua capacidade de transformar lixo em energia, como Dinamarca e Alemanha, costumam ter também altos níveis de reciclagem; só o material que não pode ser reciclado é queimado.
Na Europa, as leis ambientais aceleraram o desenvolvimento dos programas de transformação de dejetos em energia. A União Europeia restringe severamente a criação de novos aterros sanitários, e seus países já se comprometeram a reduzir suas emissões de CO2 até 2012, conforme prevê o Protocolo de Kyoto.
Em Horsholm, apenas 4% do lixo atualmente vai para os aterros, e 1% (produtos químicos, tintas e alguns equipamentos eletrônicos) segue para locais especiais, como depósitos seguros em uma mina abandonada de sal na Alemanha. De todo o lixo da cidade, 61% é reciclado, e 34% queima em usinas energéticas.
As emissões das usinas de todas as categorias diminuíram para apenas 10% a 20% dos níveis autorizados pelos rígidos padrões ambientais europeus para descargas no ar e na água.
Ao final do processo de incineração, os ácidos, os metais pesados e o gesso extraídos são vendidos para uso na indústria e na construção. Pequenas quantidades de substâncias concentradas altamente tóxicas, formando uma pasta, são embarcadas para um dos dois depósitos de materiais perigosíssimos, nos fiordes noruegueses e na antiga mina alemã de sal.
"Os elementos perigosos são concentrados e tratados com cuidado, em vez de serem dispersados como seriam num aterro", disse Ivar Green-Paulsen, gerente-geral da usina Vestforbraending, em Copenhague, a maior do país.
Na Dinamarca, os governos locais administram a coleta, a incineração e a reciclagem do lixo, e há leis e incentivos financeiros para impedir que materiais recicláveis sejam queimados.
A usina de Horsholm, que pertence a cinco comunidades adjacentes, se provou até mesmo popular em uma região conservadora, que tem a maior renda per capita da Dinamarca. O prefeito de Horsholm, Morten Slotved, 40, quer ampliá-la. "Os cidadãos gostam dela porque diminui os custos de calefação e aumenta o valor das casas", disse. "Eu gostaria de ter outra fornalha."


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