São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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ENSAIO

RANDALL STROSS


Dois bilhões de laptops? Talvez não seja o bastante

Um Laptop por Criança é um grupo beneficente que pensa grande. Desde 2007, ele vende computadores laptop baratos, mas potentes, para governos de países menos desenvolvidos. O objetivo é equipar cada uma dos 2 bilhões de crianças do mundo em desenvolvimento com seu próprio computador.
O avanço é lento. Cerca de 1,6 milhão de laptops foi distribuído pelo grupo até hoje, disse Matt Keller, vice-presidente de defensoria global na Fundação OLPC (sigla de "One Laptop Per Child"), baseada em Cambridge, Massachusetts.
Hoje as maiores concentrações estão no Uruguai, com cerca de 400 mil, e no Peru, com 280 mil, seguidos de Ruanda (110 mil), Haiti e Mongólia (15 mil cada um). "O maior obstáculo para disseminar nosso sonho é o custo", disse Keller.
Noventa por cento das máquinas foram pagas pelos governos dos países receptores, cujos recursos são extremamente limitados. Perguntei a Keller se os líderes do projeto haviam reconsiderado a parte "por criança" do programa.
"Um Laptop por Sala de Aula" certamente não tem o mesmo som, mas talvez distribuísse melhor os benefícios. Ele disse que essa mudança está fora de questão. "Um a um, criança por laptop -a natureza interativa dessa experiência é o âmago do que fazemos."
Pesquisadores da Microsoft na Índia investigaram como dar às crianças uma melhor utilidade dos PCs que já estão implantados, mesmo que uma máquina seja compartilhada por várias crianças.
Em um projeto, programadores da Microsoft desenvolveram um software que acrescentou diversos cursores à tela, cada um controlado por um mouse separado. Ele foi bem recebido nas escolas, e a Microsoft o transformou em um produto grátis chamado MultiPoint.
"Nós o chamamos, brincando, de 'Um Mouse por Criança'", disse Kentaro Toyama, que liderou o projeto. Toyama, que saiu da Microsoft em dezembro passado e hoje é pesquisador bolsista na Escola de Informática da Universidade da Califórnia em Berkeley, tem dado palestras em universidades americanas sobre a "utopia tecnológica" que ele vê em iniciativas como Um Laptop por Criança, o Classmate PC, da Intel, e até o MultiPoint.
Ele diz que essas iniciativas se baseiam no mito de que "a tecnologia é o gargalo nos países em desenvolvimento". Muitas outras coisas também são gargalos, diz -incluindo limitações institucionais, a economia, a infraestrutura básica de serviços e a política. E tecnologia tampouco é sinônimo de educação.
Entre os problemas de infraestrutura que a equipe de pesquisa da Microsoft encontrou na Índia rural estava a energia elétrica instável. Isso derivou em outro projeto de pesquisa da Microsoft, que deu aos agricultores de um distrito celulares que forneciam, através de mensagens de texto, a mesma informação que os agricultores obtinham nos centros de PCs.
"Estive em Ruanda, onde o laptop foi introduzido em um ambiente onde antes não havia equipamentos eletrônicos", disse Keller. "E, em três ou quatro dias, garotos de oito e dez anos usavam o laptop de maneira tão eficiente e criativa quanto eu."


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