São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Alemanha demora a sanar suas finanças

Por CARTER DOUGHERTY

FRANKFURT - Farhad Farassat, empresário de Munique, culpa os bancos indecisos por sua dificuldade para conseguir um empréstimo. Mas, como muitos alemães, seu problema pode ser amplamente político.
Farassat tentou emprestar 900 mil euros, ou cerca de R$ 2,5 milhões, para manter sua fábrica de chips para computador, baseada nos arredores de Munique. Mas, em abril passado, o banco que ele usou durante 17 anos vacilou.
"Os diretores se escondiam de nós", disse Farassat. Quando finalmente falou com eles, lhe disseram que "não ia dar certo".
A Alemanha, maior economia da Europa, dá sinais de ser um exemplo infeliz do que acontece quando um país não se move rapidamente para lidar com um sistema bancário em dificuldades enquanto os empréstimos secam. E muitos especialistas culpam a recusa do governo alemão a forçar uma reestruturação de seu sistema financeiro.
Com a aproximação das eleições nacionais, a chanceler (premiê) Angela Merkel contornou as duras opções necessárias para recapitalizar e reestruturar o sistema bancário, segundo especialistas e analistas. O resultado, eles temem, será uma recessão mais longa na Alemanha, cuja economia deverá encolher pelo menos 6% este ano, segundo estimativas. A economia do país, voltada para as exportações, poderá perder quando o resto do mundo voltar aos negócios.
"O problema vai ocorrer quando quisermos sair da crise", disse Klaus Zimmermann, diretor do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas, em Berlim. "O setor bancário precisa estar presente e saudável. E os bancos não conseguirão participar do processo."
A Alemanha está no coração de uma Europa que geralmente foi mais lenta para limpar seu sistema financeiro que os EUA, segundo o Fundo Monetário Internacional. Em seu recente relatório "Estabilidade Financeira Global", o FMI apontou que as proporções de capital entre os bancos nos 16 países da zona do euro foram de 7,3% no final de 2008, comparadas com 10,4% nos EUA.
"Como um todo, a Europa simplesmente não está atacando o problema bancário", disse Simon Tilford, economista-chefe do Centro para Reforma Europeia, em Londres, e especialista em Alemanha. "A Alemanha é o caso mais preocupante, e negar os problemas foi uma atitude mais acentuada lá do que em outros lugares."
Os bancos combateram a noção de uma crise de crédito generalizada apontando dados que mostravam o constante crescimento dos empréstimos na Alemanha. Por exemplo, dados do Bundesbank, o Banco Central alemão, mostram que o volume de novos empréstimos em curto prazo -com prazo de até um ano- cresceu 15,9% em maio, comparado com o mesmo mês do ano passado. Mas os credores recuaram acentuadamente em empréstimos maiores, com maturidades mais longas, como mostram as estatísticas. Em maio, o volume de novos empréstimos para até cinco anos caiu 32,7%, comparado com o mesmo mês de 2008.
Isso causa imensa frustração entre as empresas alemãs. Depois da queda livre da economia mundial no início deste ano, muitas querem planejar a recuperação, mas sentem falta de crédito.
"Está claro que os bancos estão apertando os parafusos", disse Hanns-Peter Ohl, diretor da VDMA, associação de fabricantes de ferramentas na Baviera.
Lars Hofer, porta-voz da Associação de Bancos Alemães, não negou que os empréstimos de longo prazo estão mais difíceis de conseguir, mas pôs a culpa na turbulência financeira em geral. "Há menos sindicatos para empréstimos e um sistema financeiro de longo prazo mais fraco", ele disse.
Ao contrário dos EUA, do Reino Unido e da França, a Alemanha tornou voluntária a recapitalização do governo no segundo semestre de 2008; a maioria dos bancos privados se recusou a participar.
"O que o governo fez foi muito atrasado", disse Gernot Nerb, economista do Instituto Ifo, em Munique. "E o que eles acordaram foi o mínimo denominador comum dos vários interesses em jogo."
Em sua aposta para ganhar a reeleição em 27 de setembro, a chanceler Merkel, conservadora, está tentando dispensar sua coalizão com os social-democratas, de esquerda, em favor dos Democratas Livres, de centro. Isso significa equilibrar remédios para a crise econômica com a conhecida aversão a dívidas dos alemães.
O resultado foi uma tendência a enfatizar a natureza estrangeira da crise, apesar da contribuição da própria Alemanha para ela. "Tem sentido político para Merkel minimizar os problemas estruturais do país e acentuar a crise como uma criação anglo-saxã", disse Tilford.


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