São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2011

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Novos campos provocam corrida ao petróleo nas Américas

Por SIMON ROMERO

RIO DE JANEIRO - O Brasil começou a construir seu primeiro submarino nuclear para proteger suas vastas descobertas de petróleo em alto-mar. A produção de petróleo na Colômbia está crescendo tão depressa que em alguns anos poderá atingir os níveis da Líbia antes da guerra. Uma plataforma construída pela China se prepara para perfurar em águas cubanas.
E uma das mais quentes novas empreitadas em petróleo do hemisfério fica nos Estados Unidos, em uma formação de xisto na Dakota do Norte que está produzindo 400 mil barris de petróleo por dia.
Pela primeira vez em décadas, o prêmio emergente da energia global podem ser das Américas, onde as companhias de petróleo ocidentais estão voltando seu olhar em uma corrida para explorar campos de petróleo cobiçados.
"Está ocorrendo uma mudança histórica, que lembra a época anterior à Segunda Guerra Mundial, quando os EUA e seus vizinhos no hemisfério eram a principal fonte de petróleo do mundo", disse Daniel Yergin, um historiador do petróleo americano. "Até certo ponto vamos ter um novo reequilíbrio, com o hemisfério ocidental voltando à autossuficiência."
O sucesso do petróleo no hemisfério é ainda mais notável porque duas de suas locomotivas energéticas, Venezuela e México, foram deixadas de fora, devido ao nacionalismo com seus recursos. A Venezuela hoje é considerada dona de reservas de petróleo maiores que as da Arábia Saudita, situando-a no topo das classificações da Opep. Se ela se abrisse mais ao investimento estrangeiro, poderia inclinar a balança ainda mais na direção do hemisfério.
Exatamente de que modo a força crescente do petróleo nas Américas poderia reequilibrar a geopolítica energética é uma questão que permanece em aberto. O Oriente Médio ainda pode influenciar muito os preços do petróleo, seus campos são mais baratos de desenvolver e alguns países da região possuem reservas enormes.
Ainda assim, as novas explorações de petróleo nas Américas sugerem que a tecnologia pode estar superando a geologia, especialmente nas duas maiores economias da região, Estados Unidos e Brasil. As formações rochosas no Texas e na Dakota do Norte foram consideradas propostas infrutíferas antes que a perfuração horizontal e o fraturamento hidráulico -a injeção de água, substâncias químicas e areia em uma fratura da rocha para liberar o petróleo em seu interior, conhecida como fracking- ganhassem impulso.
Enquanto a contaminação dos suprimentos de água pelo fracking é uma questão de grande debate ambiental, a tecnologia está revertendo o longo declínio da produção de petróleo nos EUA. A produção em locais onde o petróleo está contido no xisto e outras rochas deverá superar 2 milhões de barris por dia em 2020, segundo projeções. Os EUA já produzem cerca da metade de suas necessidades petrolíferas, por isso o aumento os ajudará a reduzir a dependência externa.
Os desafios para o Brasil explorar seus novos campos em alto-mar, localizados abaixo de 1,8 quilômetro de água e leitos de sal formados pela evaporação de antigos oceanos, são ainda maiores. A Petrobras, que tem ambições de superar a ExxonMobil como maior companhia de petróleo do mundo negociada em Bolsa, está investindo mais de US$ 200 bilhões para atingir suas metas.
"O Brasil se tornará uma potência petrolífera até o fim da década, com uma produção semelhante à do Irã", disse Pedro Cordeiro, um consultor de energia no Rio de Janeiro para a Bain & Company, que vê a produção de petróleo do país subindo para 5,5 milhões de barris por dia em 2020.
Esforços estratégicos como a construção de um submarino nuclear para defender os poços de petróleo salientam o plano do Brasil de usar seus recursos energéticos para projetar poder global.
"Nenhum outro lugar no planeta está tendo esse tipo de investimento", disse Márcio Mello, um ex-geólogo da Petrobras que hoje é o executivo-chefe da HRT, uma companhia de petróleo no Rio.
Analistas do setor dizem que o novo perfil energético do hemisfério está desafiando a influência que a Opep teve por muito tempo.
O Canadá e o México tornaram-se os principais exportadores de petróleo para os EUA.
Investidores de outras regiões, notadamente empresas de petróleo chinesas, também estão entrando na corrida pelo recurso no hemisfério, tentando garantir novos suprimentos ou adquirir perícia para atividades de exploração dentro de suas fronteiras.


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